A QUADRATURA DO CIRCO
As minhas sete Maravilhas
Por Pedro Barroso
NÃO CONCORDO com estas sete maravilhas.
Acho que tudo isto, no fundo, serviu para estarmos entretidos. E para aquele senhor suíço muito alto ganhar uma pipa de massa e visitar o mundo inteiro uma data de vezes. Recebido, calcula-se facilmente, com que mordomias e sorrisos…
E serviu ainda para o pessoal votar, mundo fora, com vantagem evidente e muito discutível para os países mais populosos, proporcionando chauvinismos e nacionalismos mais ou menos visíveis e influentes.
E porquê sete e não setenta?
Sim. Já sei que é o tal número mágico, etc e tal; mas o mundo cresceu, que diabo…
Também não concordo que a cerimónia tivesse sido de extraordinário impacto e beleza.
De tarde, a boleia serviu para as nossas maravilhas; e foi outra barbaridade.
O castelo do Almourol, os socalcos do Douro vinhateiro, o Convento de Mafra, Marvão, Monsaraz ficou tudo na gaveta. Não posso acreditar!
Entretanto, os pobres artistas actuavam num quadrado desolador e nu, onde mais parecia que, a qualquer momento, nos brindariam com exercícios de mãos livres, flic flacs e mortais. Essa nudez foi especialmente confrangedora num dueto – de que gostei musicalmente – por ausência de recursos cénicos que poderiam ter amenizado os 40 cm de diferença entre o Camané e a Marisa…
Não gostei da ausência visual da orquestra, encafuada e longe, quase envergonhada, ausente da realização televisiva. Nem cheguei a saber quem era o Maestro – nunca apareceu.
Não gostei da escadaria imensa e cansativa, que produzia tempos mortos a cada chamada ou nomeação.
Não gostei do vestido da Dulce Pontes e não gostei do play-back visível de Carreras e Safinas.
Depois o confuso alinhamento da transmissão continuou, supostamente para o mundo inteiro ver.
Tivemos um senhor das Nações Unidas que se atrasou no avião, não estava e ninguém sabia o que fazer.
Tivemos um documentário pífio sobre Portugal, usando imagens repetidas, outras sem jeito, cortado no início e no fim das frases e comentado num inglês pomposo, mas com pior sotaque que a minha tia Genoveva. Não havia ninguém mais qualificado para ler aquilo?!
Entretanto choviam mais tempos mortos, daqueles que não podem acontecer.
E mais; o Lord Ben Kingsley piscava os olhos à razão de 3 piscadelas por palavra; a coreografia era entre o pindérico e o fraquinho; e o Joaquim Cortez não dançou!
Obs- (Não percebo!? Não era suposto dançar? Não foi contratado para isso? Pagou-se ao homem para vir cá tocar caixa!?).
A Jennifer Lopez foi profissional, cantou directo e dançou, à frente de um grupo de dança acertado e standarizado. Canções daquelas que não me dizem nada, mas enfim, mainstream indiscutível. Cumpriu bem tudo o que se possa esperar daquilo.
No fim, aquela senhora gorducha e cintada (Xaka Quem!?) não sabia sequer em que registo e oitava entoar. Foi um descalabro, de tanto que desafinou e assassinou uma canção lindíssima. Ainda devia era pagar multa quanto mais receber cachet…
Portanto agora, para vos dar uma ideia, aqui deixo a selecção das minhas sete maravilhas, essas sim indiscutíveis.
1ª Maravilha – O arfar da menina Judite quando o peito lhe saltava, ao servir à mesa na cantina do velho Passos Manuel.
2ª Maravilha – A muito, muito curta mini-saia da minha professora de Português do 4º ano, existencialista nouvelle vague.
3ª Maravilha – Passar nos cinemas Paris e Ideal ainda com catorze anos em filmes para dezassete.
4ª Maravilha – A primeira vez que fui homem e a vaidade que senti.
5ª Maravilha – Ter sido aluno de Vergílio Ferreira e, com ele, a descoberta da inteligência.
6ª Maravilha – A gastronomia portuguesa. Toda.
7ª Maravilha – A tua boca, meu amor. Sempre.
As outras, não sei, quero lá saber. Estas sim. Ficaram em mim.
Certificado, promulgue-se, juro por minha honra, a bem da Nação, etc.
Pedro Barroso, eterno maravilhado.
Acho que tudo isto, no fundo, serviu para estarmos entretidos. E para aquele senhor suíço muito alto ganhar uma pipa de massa e visitar o mundo inteiro uma data de vezes. Recebido, calcula-se facilmente, com que mordomias e sorrisos…
E serviu ainda para o pessoal votar, mundo fora, com vantagem evidente e muito discutível para os países mais populosos, proporcionando chauvinismos e nacionalismos mais ou menos visíveis e influentes.
E porquê sete e não setenta?
Sim. Já sei que é o tal número mágico, etc e tal; mas o mundo cresceu, que diabo…
Também não concordo que a cerimónia tivesse sido de extraordinário impacto e beleza.
De tarde, a boleia serviu para as nossas maravilhas; e foi outra barbaridade.
O castelo do Almourol, os socalcos do Douro vinhateiro, o Convento de Mafra, Marvão, Monsaraz ficou tudo na gaveta. Não posso acreditar!
Entretanto, os pobres artistas actuavam num quadrado desolador e nu, onde mais parecia que, a qualquer momento, nos brindariam com exercícios de mãos livres, flic flacs e mortais. Essa nudez foi especialmente confrangedora num dueto – de que gostei musicalmente – por ausência de recursos cénicos que poderiam ter amenizado os 40 cm de diferença entre o Camané e a Marisa…
Não gostei da ausência visual da orquestra, encafuada e longe, quase envergonhada, ausente da realização televisiva. Nem cheguei a saber quem era o Maestro – nunca apareceu.
Não gostei da escadaria imensa e cansativa, que produzia tempos mortos a cada chamada ou nomeação.
Não gostei do vestido da Dulce Pontes e não gostei do play-back visível de Carreras e Safinas.
Depois o confuso alinhamento da transmissão continuou, supostamente para o mundo inteiro ver.
Tivemos um senhor das Nações Unidas que se atrasou no avião, não estava e ninguém sabia o que fazer.
Tivemos um documentário pífio sobre Portugal, usando imagens repetidas, outras sem jeito, cortado no início e no fim das frases e comentado num inglês pomposo, mas com pior sotaque que a minha tia Genoveva. Não havia ninguém mais qualificado para ler aquilo?!
Entretanto choviam mais tempos mortos, daqueles que não podem acontecer.
E mais; o Lord Ben Kingsley piscava os olhos à razão de 3 piscadelas por palavra; a coreografia era entre o pindérico e o fraquinho; e o Joaquim Cortez não dançou!
Obs- (Não percebo!? Não era suposto dançar? Não foi contratado para isso? Pagou-se ao homem para vir cá tocar caixa!?).
A Jennifer Lopez foi profissional, cantou directo e dançou, à frente de um grupo de dança acertado e standarizado. Canções daquelas que não me dizem nada, mas enfim, mainstream indiscutível. Cumpriu bem tudo o que se possa esperar daquilo.
No fim, aquela senhora gorducha e cintada (Xaka Quem!?) não sabia sequer em que registo e oitava entoar. Foi um descalabro, de tanto que desafinou e assassinou uma canção lindíssima. Ainda devia era pagar multa quanto mais receber cachet…
Portanto agora, para vos dar uma ideia, aqui deixo a selecção das minhas sete maravilhas, essas sim indiscutíveis.
1ª Maravilha – O arfar da menina Judite quando o peito lhe saltava, ao servir à mesa na cantina do velho Passos Manuel.
2ª Maravilha – A muito, muito curta mini-saia da minha professora de Português do 4º ano, existencialista nouvelle vague.
3ª Maravilha – Passar nos cinemas Paris e Ideal ainda com catorze anos em filmes para dezassete.
4ª Maravilha – A primeira vez que fui homem e a vaidade que senti.
5ª Maravilha – Ter sido aluno de Vergílio Ferreira e, com ele, a descoberta da inteligência.
6ª Maravilha – A gastronomia portuguesa. Toda.
7ª Maravilha – A tua boca, meu amor. Sempre.
As outras, não sei, quero lá saber. Estas sim. Ficaram em mim.
Certificado, promulgue-se, juro por minha honra, a bem da Nação, etc.
Pedro Barroso, eterno maravilhado.
Etiquetas: PB
4 Comments:
Pois é tenho outras sete idênticas...
E eu outras muito idênticas. Fora isto, subscrevo inteiramente o que diz Pedro Barroso. Salvador Silva
Achei que o espectáculo foi bastante agradável, mas subscrevo algumas partes mais infelizes: A pronúncia do comentador português (inadmissível), o realizador que não teve pena do Carreras e fazia grandes planos dos enganos no playback e a enorme escadaria em forma de 7 que criou demasiados tempos mortos.
G.Noronha
Gostei destas maravilhas...
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