A pátria cheia de sono
Por Baptista Bastos
As obras no hemiciclo da Assembleia da República trouxeram algumas alegrias aos mais cépticos dos cidadãos. Entre campainhas em surdina, computadores e assentos mais confortáveis, a grande novidade consiste na aplicação de uma luz vigilante. Vigilante de quê e de quem?, perguntará, ousadamente curioso, o pio leitor. Da tranquila sonolência que costuma embalar os destemidos deputados, e devolver-lhes sonhos do passado e bem-aventuranças do presente.
A LUZ É UMA LUZ civilizada, embora crua e inclemente. Como as televisões e as imagens da imprensa no-lo informam, os encantadores parlamentares, digerem, dificultosamente, os almoços e deixam-se levar nos braços de Morfeu. É o momento da calma. Ninguém ouve ninguém, e ninguém está interessado em ouvir tristes realidades e objurgatórias incutidas e já conhecidas no breviário do Parlamento. A luz, a nova luz, acaso quiséssemos utilizar uma metáfora deselegante e fácil, constrange os representantes da nação a não pregarem olho. Nem um módico bocejo. Podem não prestar a mais escassa atenção ao que dizem os outros; mas salvam as aparências: estão de pálpebra aberta. Se cederem à soneira e o olho se lhes cerrar, logo a luz, ofensiva e retumbante, ataca os prevaricadores. (...)
Texto integral [aqui]
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1 Comments:
Com esta luz civilizada,
embora crua e inclemente,
a objurgatória será amenizada
sanando qualquer mente!
Uma luz vigilante
para combater a sonolência,
a verborreia horripilante
resistirá à astúcia indolência.
O mexilhão encandeado
com tão benéficas mutações,
fica severamente estonteado
com todas estas inovações!
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