31.7.09

Jovens e velhos

Por Joaquim Letria

OS VELHOS SÃO RABUGENTOS para com os jovens e estes não têm paciência e são insolentes para com os velhos. Não quero, nem me interessa, apurar culpas desta realidade. Mas deixem-me desde já dizer que tenho muita pena que assim suceda, pois uns e outros só tinham a ganhar se se entendessem melhor.

Há sociedades e nações onde os mais velhos são respeitados, e ao escrever isto penso no que muitas vezes vivi em África e na Ásia, onde se reconhece a importância da experiência de vida, o saber feito de anos e de situações difíceis, ricas de maturidade seja na literatura, na filosofia ou na ciência.

Agora que tanto se fala da ida à lua, há 40 anos, recorde-se qual era a “idade do astronauta”, entre os 40 e os 45 anos, considerada a idade do apogeu das capacidades físicas, intelectuais e emocionais do ser humano. Tudo bem. Mas que os maduros e os velhos não esqueçam duas coisas muito importantes. A primeira, que também foram jovens e como então se comportavam. A segunda, que tudo o que é mudança nos gostos, nos hábitos, no divertimento, no que se pensa, no que se acredita e pelo que se luta se deve quase sempre aos jovens.

Foram eles que nos mudaram a moda, a música, a escrita, a linguagem e os meios de comunicação dos últimos 100 anos. Também foram eles a dar vida às ideias comunista, fascista, anarquista, nacionalista, nazi.

Uma vez reconhecida esta verdade, bem podíamos envelhecer juntos e… mais devagar!

«24 horas» de 31 de Julho de 2009

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1 Comments:

Blogger António Viriato said...

Na verdade, a maior parte dos astronautas americanos, bem como a maioria dos cosmonautas soviéticos,eram um pouco mais novos quando começaram a voar para o espaço.

Alguns iniciaram-se ainda na casa dos vinte anos, como a célebre Valentina Tereshkova, mas de um modo geral andariam na casa dos trinta, até pela necessidade de assegurar uma carreira durável, muito exigente, nos planos físico e psicológico.

Quanto aos desentendimento entre as gerações, creio que, assim como não devemos desprezar a contribuição dos jovens, o seu desejo de alterar o que lhes parece mal ou errado no Mundo que encontram à sua frente, tão pouco devemos incensar a mocidade como um valor absoluto, visto que nela vive implícita uma grande dose de ingenuidade, imaturidade e ignorância, que só os anos podem eliminar ou atenuar.

O que nela é louvável é a sua natural generosidade para abraçar causas, ideias e ideais e a sua capacidade de por eles lutar, característica muito mais presente nela do que nos adultos e, menos ainda, nos velhos, já muito mais presos ao comodismo e ao convencionalismos sociais.

Por outro lado, aquela ingenuidade típica da juventude é motivadora de acção, ao passo que a acumulação de experiência, com a sua inevitável colecção de desenganos, faz perder o idealismo, inibe a ousadia, deixando assim limitada a capacidade de lutar por novos objectivos, por coisas incertas, mas prenhes de significado, geradoras de entusiasmo, tudo aquilo que é necessário para nos impelir à acção.

Daí, a utilidade da convivência e da cooperação entre as gerações, recomendação antiga, mas que, nem por isso, perdeu sentido.

De resto, nenhuma geração elabora a sua contribuição a partir do nada, porque a Humanidade não está sempre a recomeçar a Civilização, embora às vezes tal pareça, pela indiferença com que olha para trás, na História, desprezando o esforço de tantos que se bateram pelo bem comum, de que hoje todos, apesar de tudo, colhemos benefícios.

Há, de facto, no presente, certo endeusamento de tudo o que é jovem e moderno e a sua busca a todo o preço, mas creio que também este equívoco acabará por ser ultrapassado, com a inexorável ressaca que desta estonteante visão do mundo já hoje se faz sentir.

Bom momento de reflexão, este, pelo qual saúdo o experiente jornalista que já em jovem admirava e que, modestamente, continua a merecer a minha consideração.

Votos de continuada boa inspiração e lucidez permanente.

1 de agosto de 2009 às 05:04  

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