2.12.09

O amigo dos javalis

Por Joaquim Letria

MORREU UM AMIGO MEU que era o exemplo, em pessoa, do amor que os caçadores votam aos animais, mesmo àqueles que perseguem para abater, por mais estranho e contraditório que isto possa parecer. Este meu amigo, caçador emérito, era quem, como ninguém, elogiava o javali, espécie muito maltratada entre nós - contava ele.

Ao fim e ao cabo, dizia o meu amigo, o javali, porco, feio e tosco, é o verdadeiro senhor da nossa mata, das serranias devastadas ou do mato emaranhado, animal bem mais capaz e resistente do que o imponente veado, o corço invisível, o mítico lobo ou o astuto lince.

Segundo ele dizia, o javali é capaz de derrotar o alce de dez pontas. Este meu amigo, que conviveu com estes bichos na aspereza das serras e dos montados, garantia que este animal, com presas ou sem presas, tinha um profundo desdém pelo ser humano, talvez por ser muito mais sensível do que o homem. Não conheço o javali de tão perto. Só assim, de ouvir falar. Mas se este meu amigo tal dizia, é porque é mesmo verdade. Aposto que naquele tal sítio para onde devem ir as pessoas boas e divertidas que nos deixam, vão passar a fazer grandes montarias.
«24 horas» de 2 de Dezembro de 2009

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1 Comments:

Blogger Ribas said...

Caro Joaquim Letria, um grande bem-haja e os meus sentimentos pela sua perda.
Este comentário não tem tanto a ver com a triste, mas bela homenagem prestada ao seu amigo, mas também cabem nele curiosos animais. Curiosos porque se tratam do seu Labrador e do meu gato. Eu explico. Ontem vinda a minha mulher do veterinário, depois de fazer o relatório clínico do nosso gatinho “Chita” ali internado, disse-me: - Sabes quem estava lá?... O Joaquim Letria! Ena pá!... O Joaquim Letria? – Perguntei eu surpreendido. Contou-me depois, com minúcia de mulher, como decorreu a efeméride, para que eu não perdesse pitada. Confesso que fiquei entusiasmado, porque cresci a ver o Joaquim Letria na televisão. A coisa passou, jantamos, mas a curiosidade (que quase matou o meu gato) jantou comigo. Depois do jantar resolvi ir passear no Google, aquela “aldeia “ onde cabe o mundo todo na ínfima distância de um clique e logo dei com este surpreendente Blog. Peço desculpa pela idiotice, imagine-se agora, o Joaquim Letria vai à mercearia, cruza-se inevitavelmente com algumas pessoas e logo no dia seguinte, senão no próprio dia, lá estão elas, postadas no seu blog a eternizar o evento, quiçá pormenorizando a fruta comprada e o preço do quilo.
Não é essa a minha intenção, embora seja uma constatação. Mas a realidade é que o blog nos agradou muito e, não fosse o famigerado encontro no veterinário, seria improvável que viesse a descobrir os seus encantos. Como possivelmente diria o professor Nuno Crato “Um nó estatístico”.
Pois é, para além das suas histórias fantásticas, de anões rolantes e desabafos envolvendo biscoitos de estricnina e cães de mulheres com ar de “quanto mais conheço os homens, mais gosto dos animais”, divertidíssimas diga-se, encontrei ainda, uma equipa muito fixe, com Nuno Crato, a quem tive a felicidade de conhecer também ocasionalmente, em “2 minutos de ciência” na rádio Europa, ao fazer um zapping fastidioso. Quanto aos outros, os mais ou menos conhecidos, tornam este blog muito bom. Até já tive a liberdade de deixar os meus comentários, aqui e ali LOL
Bem, não tomo mais o seu tempo, mas mais uma vez agradeço a si, ter aparecido ontem no veterinário e por nos dar este blog “à maneira”.
Abraço, Ribas.

3 de dezembro de 2009 às 15:34  

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