16.7.11

Procure no (...) que encontra

Por Ferreira Fernandes

VOLTO à explicação que Vítor Gaspar deu à frase que abalou a semana, "desvio colossal".
Relembro, em reunião à porta fechada na Comissão Nacional do PSD, Passos Coelho disse qualquer coisa. Lubrificando a promiscuidade habitual, um comissário soprou a um jornalista que o primeiro-ministro disse que encontrou nas contas públicas um "desvio colossal". Logo se desatou uma polémica, da qual nunca ficaremos a saber a relação com a realidade como sempre acontece quando as testemunhas são anónimas, os contextos apagados e a vontade de chicana, muita.
Inevitavelmente, o ministro das Finanças seria perguntado à primeira oportunidade pela polémica e preparou-se para isso. Perguntaram-lhe. Não tendo estado no local, Gaspar agarrou-se às três únicas coisas palpáveis da polémica: a palavra desvio, o espaço entre as duas palavras e a palavra colossal. É, ele lembrou que não se discutia sobre "desvio colossal", mas sobre "desvio (...) colossal".
Não nos darmos conta do espaço entre as palavras às vezes faz-nos perder o melhor do filme. Por exemplo, num célebre poema se juntarmos "as armas e os barões assinalados" a "ter inveja", ficamos convencidos que os portugueses só têm inveja. Mas se entre as palavras iniciais e as últimas ocuparmos o espaço com dez cantos e 1102 estrofes trata-se, afinal, do maior elogio aos portugueses.
Em finanças, Vítor Gaspar ainda não poupou que se visse. Mas já nos fez poupar uma polémica. Nada mau.
«DN» de 16 Jul 11

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1 Comments:

Blogger O Galã de Massa Má said...

Com as explicações que deu, e conhecendo nós a incontinência verbal do Alforreca, só deve ter convencido os tontos.
E claro, também fez de tonto, que é o que parece ser.

16 de julho de 2011 às 10:37  

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