«Dito & Feito»
Por José António Lima
FICA BEM a Francisco Louçã a decisão de não se recandidatar ao lugar de
coordenador do Bloco de Esquerda, sobretudo pelo que revela de desapego
do poder e de disponibilidade para a renovação dos cargos dirigentes,
mas também pela raridade do gesto entre as figuras que ocupam lideranças
políticas. E Louçã alcançara já o estatuto de mais antigo líder
partidário em funções: 13 anos à frente do Bloco e 34 anos no total, se
contabilizarmos os 21 anos em que liderou o PSR (e deixando de lado os
outros 5 anos na LCI).
Louçã não resistiu, no entanto, a duas
tentações que deslustram o seu retrato na hora da saída. A primeira foi a
de querer dourar a pílula da sua liderança e do actual peso político do
BE, ao repetir, uma e outra vez, nestes últimos dias, que sai com
excelentes «sondagens que vão indicando subidas do apoio popular» ao BE.
Acontece que a maioria das sondagens coloca hoje o Bloco na casa dos 5%
a 6% e em último lugar entre os partidos parlamentares. Reproduzindo,
de resto, a enorme queda das legislativas de há um ano, quando o Bloco
de desmoronou eleitoralmente caindo de 9,6% para 5,2% e perdendo 8 dos
seus 16 deputados. O momento não é, pois, de subida mas de refluxo, por
muito que custe a Louçã admiti-lo.
A segunda tentação foi a de
querer impor uma espécie de sucessão dinástica, com o original modelo de
uma liderança bicéfala e paritária que quer deixar como herança e que,
pelos vistos, está longe de ser partilhada pela restante direcção do BE.
Se Cunhal designou Carvalhas, Louçã nomeia Semedo e Catarina...
Restam,
ainda, fundadas dúvidas sobre o lugar que Louçã irá ocupar no futuro do
Bloco (excluída que está a hipótese de, tal como Cunhal, criar para si
próprio o cargo de presidente do Conselho Nacional do partido...).
Matéria em relação à qual o líder de saída tem sido muito vago e
indefinido.
A hipótese de ser candidato presidencial em 2016, além
de distante, não adianta nem atrasa: já o foi em 2006 com péssimos
resultados (5,3%, atrás de Jerónimo de Sousa) e nunca terá o apoio do
PCP ou do PS. Candidato para quê?
João Semedo, putativo novo
líder, diz com optimismo que a sombra de Louçã «será sempre uma sombra à
sombra da qual o Bloco não se importa de estar». Estaremos cá para ver.
«SOL» Etiquetas: autor convidado, JAL
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