28.2.13

A força da palavra coisificada

Por Ferreira Fernandes
HENRIQUE Manuel Pereira (HMP), professor na Universidade Católica do Porto, escreveu ontem, no Público, sobre o bispo Carlos Azevedo. A sua segunda frase é: "Também me são quase indiferentes os comentários de quem se confessa ateu ou agnóstico." 
Acho ousado quase varrer a opinião de tanta gente, mas não é esse absurdo que aqui me traz. Há dias, foi revelado que o bispo Carlos Azevedo foi acusado por um antigo seminarista de o ter assediado sexualmente. E HMP vem testemunhar sobre o amigo que conhece há vinte e sete anos: "Conheci o atual bispo Carlos Azevedo era ele padre, diretor espiritual e eu seminarista, no Seminário Maior do Porto. De forma próxima e íntima, durante cerca de quatro anos, vivi com ele na mesma casa." E mais à frente: "Seria incapaz de contar as vezes em que, no meu quarto ou no seu gabinete de trabalho, a sós, ficámos a trabalhar noite dentro. Em contexto privado e ao longo dos tempos, recebi dele inúmeras manifestações de afeto, mas em nada diferentes das que para comigo teve também em público." 
HMP escreveu isto sobre o seu amigo. Testemunhos sobre amigos atingidos por escândalos há muitos, comoventes, precipitados e até salvadores. Neste há uma característica rara, porque é próprio dos escândalos a peçonha de contaminar: é um testemunho substantivo. Vou tentar memorizar a foto de HMP, pois atravessarei a rua para lhe estender a mão pela coragem. Se é que ele aceita cumprimentar um ateu.
«DN» de 28 Fev 13

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