27.2.13

O conclave acelerado

Por Antunes Ferreira
NUNCA ao longo dos séculos em que existe a Igreja Católica Romana e Apostólica se verificou um Conclave tão acelerado. Sinal dos tempos, das pole positions, dos bólides, da Fórmula Um? Pelos vistos nada disso contribui para a aceleração por parte de Bento XVI da reunião dos cardeais que vão eleger o próximo Papa. Há já diversas teses, muitas opiniões e avultadas coscuvilhices a propósito dessa velocidade e das causas da renúncia do que se classificou de Panzerpapa. O passado do ex-cardeal Joseph Ratzinger esteve (e quiçá continue a estar) num assunto enevoado. O que veio a lume é que ele pertenceu à Juventude Hitleriana.
Mas, deixe-se de parte este enigmático e sinistro episódio – durante o nazismo todos os jovens com mais de 14 anos tinham obrigatoriamente de se enquadrarem na organização juvenil do regime. No Portugal salazarista recorde-se que também havia a Mocidade Portuguesa – para abordar, antes do mais, a renúncia do Papa. Eduardo Febbro, um jornalista em Paris escreveu A história secreta da renúncia de Bento XVI da qual aqui fica extraído um passo importante:
«Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba.
Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro.
O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.
Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas(…)»
Todo o artigo desenvolve, por exemplo as relações da Cosa Nostra com o Vaticano, cujo novo patrão, Messina Dernaro, tem o seu dinheiro em contas no IOR, e as intervenções na trama que tinham envolvido o americano Monsenhor Marcinkus, o «suicídio» do Presidente do Banco Ambrosiano, em1982, bem como as «fugas de informação» do secretário de Bento XVI, Monsenhor Bertone, numa amálgama tenebrosa que incluía ainda o anterior Papa João Paulo II. De tudo isto se pode compreender a renúncia do antigo cardeal Ratzinger.
Já no que respeita à velocidade «supersónica» da convocatória do Conclave, há mais razões a considerar: o papa Bento XVI fez uma alteração na lei vaticana para permitir mais rapidez na eleição do seu sucessor. Anteriormente, o Conclave deveria começar pelo menos 15 dias depois da resignação papal. Contudo Bento XVI alterou essa disposição para que as reuniões prévias ao conclave possam começar já a 1 de março. Caberá então aos participantes desses encontros definirem a data de início da eleição.
Mas há mais. Três dias antes da sua renúncia, Benento XVI aceitou a demissão do único cardeal-eleitor do Reino Unido, O'Brien, que já não participará no Conclave pois ter-se-ia comportado de «forma inconveniente» para com padres ao longo de 30 anos Alguns cardeais querem também que o início da reunião (que terminará com o fumetto bianco), seja rápido para reduzir o período de acefalia da Igreja num momento muito difícil.
Outros, porém, acham que a antecipação do conclave dará a  vantagem aos cardeais que já estão em Roma, trabalhando na Cúria, que é a administração do Vaticano, foco das acusações de incompetência e escândalos sexuais que diversos órgãos da comunicação social especulam que poderiam ter levado à renúncia do papa. Claro que a Santa Sé negou tudo. Mas, o que é certo é que, logo após a renúncia, já há cardeais que fazem consultas informais por telefone e e-mail. Ou seja o progresso e a globalização já marcam a reunião.
Acentua-se, portanto, o imbróglio que se vive no Vaticano e que ninguém sabe onde ele irá parar. O prestígio de que gozava a Igreja Católica Apostólica e Romana parece estar a ir-se ao fundo. Mas, sendo este talvez o pior momento que vive, ela sempre conseguiu emergir da procela. Atenção pois aos próximos capítulos desta telenovela eclesiástica.

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4 Comments:

Blogger Eduardo Ramos said...

Claro que é acelerado! Agora fazem tudo por email e SMS!

27 de fevereiro de 2013 às 14:03  
Blogger Íris said...

https://www.google.pt/#hl=pt-PT&sclient=psy-ab&q=roman+empire+rules+today&oq=roman+empire&gs_l=hp.1.3.0l4.1866.5668.0.8425.12.8.0.4.4.0.224.1085.0j7j1.8.0...0.0...1c.1.4.psy-ab.fTLVxIWLKvo&pbx=1&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_qf.&bvm=bv.42965579,d.d2k&fp=cb06479f0792ea8b&biw=1440&bih=731

27 de fevereiro de 2013 às 16:47  
Blogger Unknown said...

Ramosamigo

Pelo andar da carruagem, o próximo será na estação espacial

Abç

H

28 de fevereiro de 2013 às 21:10  
Blogger Unknown said...

Irisamiga

Não te importas de traduzir. Isto é pior do que a pedra da Roseta...

Qjs

H

28 de fevereiro de 2013 às 21:12  

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