10.3.13

Dica para pôr a 'troika' na ordem

Por Ferreira Fernandes
O PAPEL controlador da troika entendo-o com a resignação dos devedores. Já me parece demais quando ela se arma em dar conselhos amigos: "O Governo está a fazer as coisas bem mas a comunicá-las mal", diz o Expresso que ela (troika) disse. 
Eu peço dinheiro ao banco e este, mal eu falhe uma prestação, vai-me ao ordenado. Admito. Outra coisa é, à pala de eu ter pedido um empréstimo para o carro, ver um cavalheiro de belos cabelos prateados a aparecer-me na autoestrada a fazer sinais: era o sr. Ricardo Espírito Santo a mandar-me passar a mudança para quarta... Isso, não deixo. 
A relação com dinheiros entre credores e devedores está há séculos bem regimentada. Com ligeiras mudanças para a parte fraca do negócio (dão-lhe açoites, prendem ou simplesmente vão-lhe ao bolso) mas cada um sabe o lugar de cada um. Repito, a troika que nos cobre. Mas só dinheiro! Que se arrogue a dar lições públicas de convivência ao meu Governo é-me insuportável. Hoje é: expliquem-se melhor. E amanhã? "O défice está uma beleza... Mas, Pedro, esse corte de cabelo..." Ou: "Álvaro, como é? Com essa pronúncia de Viana como é que você quer vender alguma coisa em Belgravia ou Mayfair? Ah, não é de Viana, é de Viseu... Não interessa, faz sempre parolo..." 
Parece que na segunda a troika e o Governo vão-se encontrar. Eu levava a Bobone. O careca desengonçado tem ar de beber chá com o mindinho espetado: ao primeiro abuso deles, ela lembrava-o.
«DN» de 10 Mar 13

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