Por Ferreira Fernandes
PORQUE os Deuses das Comparações Malandras não dormem, quis o destino que em Londres, no domingo, uma televisão tivesse acolhido um político. Este, um grande, uma prima-dona, de incontroláveis melenas loiras, mayor de Londres e conservador à espreita de mais, a morder as canelas do seu colega primeiro-ministro, enfim, Boris Johnson, foi tratado pela BBC como, no dia seguinte a ter sido zurzido, ele próprio disse o que lhe fizera o jornalista: "Ele estava no seu perfeito direito de me escavacar. Aliás, o chocante seria não tê-lo feito. Se um apresentador da BBC já não pode atacar o nojento de um político conservador, onde é que o mundo vai parar?"
Sim, há um pouco de ironia nas palavras, mas sobretudo há o saber qual é o lugar de um político frente às câmaras. Para se explicar, não debitar, para ser contraditado e não para lhe beberem as palavras.
Aconteceu, pois, esta batalha, enquanto no mais velho aliado da Velha Albion decorrem as contratações de políticos para jogos florais nas televisões: "Ora faça Vossa Senhoria o obséquio de nos ilustrar..."
É a terceira vez que, numa semana, falo do assunto - aí está o porquê: é um assunto de civilização. Ou queremos políticos e jornalistas assim, ou não. Aconteceu ainda que peguei no assunto quando José Sócrates passou a ser um dos convidados. É coincidência, mas não mera: Sócrates é para ser zurzido e não para ser ser desperdiçado como se fosse um qualquer Marques Mendes.
«DN» de 26 Mar 13Etiquetas: autor convidado, F.F
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