8.4.13

Esta vida são dois dias

Por Joaquim Letria
DEVEMOS diminuir o tempo que gastamos com as nossas preocupações. Que bom que seria se nós, que entrámos num período com menos tempo para viver, pudéssemos recuperar todo o tempo que gastámos a preocupar-nos com as nossas vidas. Podíamos então prometer que, daqui para a frente, passaríamos a gastar o mesmo tempo a pensarmos naquilo que vamos fazer no futuro.
As preocupações são uma tremenda perda dum precioso e limitado tempo de vida. Temos de aprender a reduzir as nossas preocupações ao mínimo, ou mesmo eliminá-las o mais possível, de molde a podermos dispor do máximo de tempo para o dedicar a construir a nossa felicidade.
As preocupações são uma barreira, quase intransponível, para impedir o acesso à alegria, à satisfação e ao contentamento. 
Convençam-se que preocupar-nos não ajuda a resolver o que quer que seja. Quando se convencerem de que preocupar-nos não resolve praticamente nada, vamos sentir uma liberdade e um alívio difícil de descrever. Virem as costas às vossas preocupações e virem-se para aquilo e aqueles de quem mais gostam e que vos dá maior prazer. 
Os velhos são vistos por muita gente como fontes de aborrecidas preocupações. Quem combateu, ou teve familiares em qualquer guerra, é natural que se preocupe mais com a política e com os negócios estrangeiros, assim como quem viveu os anos difíceis da II Guerra Mundial, com racionamentos e restrições, estimulará preocupações financeiras, apagará as luzes quando não são necessárias, gastará menos água e aproveitará melhor o que sobra das refeições. Mas nada disto está mal. O mal é estragar a nossa vida quotidiana e não pensarmos noutra coisa que não sejam desgraças. Porquê preocupar-nos em excesso? É esse excesso de ralações que nos envenena o presente e nos faz perder dias, meses e anos que não recuperaremos mais. 
Todos nós sabemos que esta vida são dois dias. Demasiado curta para nos preocuparmos com o que vai acontecer ou, até, poderá nunca suceder. 
Um bom conselho é nós concentrarmo-nos no presente, focar-nos no dia de hoje e deixarmos de nos torturar com aquilo que, muitas vezes, só existe, acontece ou pode acontecer nas nossas cabeças. Devemos também lembrar-nos e pensarmos no efeito do tempo. O que for, soará – como diziam os nossos mais velhos - e o que soará, logo se verá! Parem e pensem que ralarem-se em excesso só vos faz mal. Ocupem as vossas cabeças com uma coisa de cada vez, se possível. 
Um velho conselho, que nos foi dado há milhares de anos, foi “CARPE DIEM”. Esta expressão, em latim, significa “AGARREM O DIA!”. E ainda hoje esta é uma recomendação certa e actual que nos chega da nossa cultura greco-romana. Pense no futuro, para estar preparado com o que vai acontecer e planear o que vai fazer, mas depois concentre-se no presente e desfrute e governe cada dia que passa, em vez de se mortificar com preocupações de coisas que não sabemos como vão suceder nem, sequer, se realmente acontecem. Por isso mesmo, o mais importante é o dia presente. 
Planifique o futuro, prepare-se para o que certamente vai acontecer, resolva os problemas com cabeça, pense, não perca tempo e divirta-se! Se tem medo de alguma coisa, identifique e isole esse problema. Estes são receios e apreensões legítimas! Se pensar como vai enfrentar essa questão, e estiver preparado, diminui muito as suas preocupações. 
Aceite as coisas que acontecem e que já não pode evitar. Perdoe e contenha-se perante pessoas de quem não gosta e dificilmente pode suportar. Mas não tenha essa aceitação duma forma passiva. Pense como reagir ou comportar-se perante alguém ou numa nova realidade, conforme aos seus interesses e às suas conveniências. Mas encare o futuro com outra frase que também ela nos diz tudo:” O QUE FOR, SERÁ”! E conte até 10 antes de se manifestar... O receio e as preocupações são endémicas e naturais ao dia-a-dia moderno dos seres humanos. Os mais velhos de nós, naturalmente que pela sua experiência e pelo seu conhecimento, sabem e podem não só dar estes conselhos, mas também segui-los, enquanto os mais jovens acharão difícil fazê-lo. Mas é natural que assim seja, pois é a muita experiência e o muito tempo de vida que o determinam. O Diabo sabe muito não por ser o Diabo, mas por ser velho. 
Os cientistas e os médicos que estudam estas coisas e se preocupam com o que vai nas nossas cabeças sabem uma coisa muito importante: elas ocupam e mortificam mais aqueles que pouco têm que os ocupe, ou mesmo nada com que se preocupar. 
Ruminarmos acerca de coisas más que nos podem acontecer, ou aos nossos entes queridos, é completamente diferente de ter questões reais e concretas para resolver. Quando assim fazemos, estamos a defender-nos e aos nossos, em vez de estarmos a cansar-nos e a torturar-nos, gastando os nossos recursos de conhecimento num sentido errado, sem nada de concreto para além de situações possíveis ou inverosímeis. 
Uma estratégia importante para reduzir as nossas preocupações é aumentar o tempo gasto com questões e problemas concretos, resolvendo-os, ou ajudando a resolvê-los, e eliminando, ou diminuindo drasticamente, o tempo de imaginarmos ou criarmos preocupações.
Tal como nos cuidados a ter com o corpo, fazendo exercício sempre que possível, também é desejável ocuparmos o nosso tempo e as nossas cabeças com actividade real, que não nos mortifique nem nos faça perder um tempo precioso desta nossa curta passagem pela Terra, sempre tendo em mente que esta vida são dois dias.

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Disse alguém:

"Pré-ocuparmo-nos? Basta que nos ocupemos, quando for o momento."

E no entanto...

Ademais com os representantes e governantes que temos e com os que temos tido...
Eleitos por... nós!

Mas o texto está imbatível, pela realidade, pela sabedoria e pela ironia.

8 de abril de 2013 às 17:10  
Blogger Bmonteiro said...

Carpe Diem.
Sursun Corda.

8 de abril de 2013 às 21:02  

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