16.5.13

O Caso do Salário Mínimo Nacional (*) Diz que não disse o que dissera que disse

Por Antunes Ferreira 
CHEIRA-ME que já obtivemos mais um recorde mundial. Nada, não se trata de Atletismo, nem se cita o Carlos Lopes, a Rosa Mota, a Neide Gomes, o Fernando Mamede, o Nelson Évora: poucos, mas bons. Estamos a falar de Política que neste caso é Pulhítica: Coelho & sus muchachos, apoiados e treinados pelo sôr Silva, alcançaram o recorde mundial de desmentidos e contradições.
Creio não ser necessário apresentar exemplos tão quotidianos eles são; há porém, uma circunstância temporal que possui o maior relevo; ora bem, vejamos. 
Passos do Coelho disse na Assembleia Nacional, perdão, da República, que o Governo encara a hipótese de baixar o salário mínimo nacional; não disse; disse apenas que, em rigor, o mais sensato até poderia ser a descida do salário mínimo nacional para facilitar a criação de emprego, invocando o exemplo da Irlanda. Contudo - acrescentou Passos Coelho - o Governo já afastou esse cenário. Citando aqui algumas ideias mestras de João Lemos Esteves na sua «Politicoesfera» que publica no Expresso. Continuo a utilizar Lemos Esteves, mesmo sem lhe pedir licença.
Repare-se: depois desta frase desastrosa de Passos Coelho, foi o próprio Primeiro-ministro que, no estrangeiro, teve de dar explicações sobre o que pretendia dizer. Passos Coelho a explicar e a comentar Passos Coelho. Quem se fragiliza politicamente? Passos Coelho, o chefe de Governo. Como é que um Governo pode ter sucesso assim? Fácil: não pode! Este Governo resume-se a Passos Coelho: ninguém se entende -Paula Teixeira da Cruz dá recados aos seus colegas de Governo publicamente, os ministros dão informações contraditórias sobre a mesma matéria -, todos dão os seus palpites pessoais e ninguém aparece para explicar as medidas do Governo. Só mesmo Passos Coelho - e mal. Um Governo assim aguenta até 2015? Bem pode vir Luís Marques Mendes proclamar que o Governo tem todas as condições para ganhar as legislativas - só mesmo alguém que se dá muito bem com Miguel Relvas (que é a sua fonte para os seus comentários) pode acreditar em tal coisa...
Entretanto Eduardo Catroga, o gestor que representou o PSD nas negociações do famigerado «memorando de entendimento» afirmou que «o mais acertado é o congelamento.
Catroga em declarações à Rádio Renascença, precisou que «A opção de congelar salários, num quadro destes, parece-me uma opção perfeitamente defensável». Mas só «numa situação muito extrema é que se pode admitir que o Estado sequer pondere essa variável [corte nos salários e pensões]».Para ele, o essencial é racionalizar estruturas e cortar ineficiências. «Não tocar nos salários e nas pensões», reforçou.
Interrogado quanto a uma eventual redução do salário mínimo nacional - uma tema polémico que agitou as marés entre Passos Coelho e António José Seguro esta semana no Parlamento - Catroga apenas disse: «Aconselho o Governo a não se debruçar sobre o tema».
«As empresas que podem pagar mais que o salário mínimo nacional pagam e devem continuar a pagar. O Estado não deve imiscuir-se nas discussões de política salarial das empresas. As empresas que pode pagar, pagam, as que não podem pagar, não pagam. Agora admitir que o Estado tem que dar diretivas às empresas, isso é uma visão ultrapassada», frisou. Mais: Catroga não acredita que «a troika se meta nisso», já que a medida faz parte apenas «da esfera empresarial». Mas «que a troika se meta na política salarial da função pública, eu percebo, na medida em que está a financiar um Estado falido», apontou. 
Ora bem, se um Executivo diz ao pequeno-almoço que algo é branco, ao almoço assegura que é negro, ao jantar afirma que é cinzento e à ceia diz que é assim-assim e quiçá, de novo, um branco esbranquiçado, e uma/um ministra/o desmente o que um outro ministro e vem depois alegar que não disse o que disse e o queria dizer era que… está o caldo, o caldeirão, a tripé e o carvão todos entornados. 
Por isso, termino como comecei: o campeonato mundial da Pulhítica já cá canta!
(*com a minha homenagem ao Erle Stanley Gardner)

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1 Comments:

Blogger 500 said...

O AF é um optimista.

16 de maio de 2013 às 19:21  

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