A memória apagada
Por Alice
Vieira
HOJE, pela
primeira vez na minha vida, sinto-me velha.
Tenho o
telemóvel na mão e estou há horas a olhar para ele sem saber o que fazer. Acabo
por largá-lo, aqueles para quem eu queria ligar já não me vão atender – e, para
além deles, já não há mais ninguém capaz de entender a minha não sei se fúria,
não sei se raiva, não sei se impotência. A minha — isso sei — grande tristeza.
Dói-me esta
perda de memória que vai atacando a nossa sociedade a um ritmo cada vez mais
vertiginoso.
Acabo de
chegar da Escola Francisco Arruda, onde acho que já não entrava há mais de 40
anos. Ótimas instalações, tudo a cheirar a novo.
A escola
Francisco Arruda foi o “sonho” de um homem chamado Calvet de Magalhães, um dos
maiores pedagogos deste país que, nesses anos 50 da sua fundação, a transformou
num oásis de educação e de cultura. Pioneiro de muitas causas (a integração de
alunos deficientes foi uma das suas grandes lutas), foi sobretudo um animador
cultural num tempo onde o desânimo imperava. A escola estava então rodeada de
bairros de lata e, todos os sábados, ele abria as portas a toda a comunidade. E
havia exibição de filmes, palestras, ateliers de olaria, histórias contadas aos
miúdos, etc. Era uma maravilha ver aquela escola cheia de gente, que a
considerava sua. (...)
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