«Dito & Feito»
Por José António Lima
HÁ LÍDERES políticos que saem mal, contrafeitos e ressentidos, dos seus
temporários cargos de poder. E que se entregam, em seguida, a constantes
e amargos ajustes de contas com o seu passado recente e com aqueles que
consideram responsáveis pela ingratidão de que sentem ter sido vítimas.
Manuela Ferreira Leite e José Sócrates constituem dois casos exemplares
dessa síndrome de rejeição mal resolvida.
A ex-ministra das Finanças e
ex-líder do PSD tornou-se uma opositora feroz do Governo do seu
partido, espraiando-se em intervenções de tom inflamado e de um
radicalismo que se confunde com o Bloco de Esquerda. Sobre a proposta de
convergência das pensões públicas da CGA com as do sector privado,
implicando cortes médios de 10%, Ferreira Leite veio agora clamar ao
país que ela «é profundamente imoral», «verdadeiramente chocante», «uma
agressão que provoca marcas irreversíveis nas pessoas», digna de «um
Estado no qual não se pode confiar». Para concluir, já em delírio
argumentativo, que «um Governo comunista não teria uma decisão muito
diferente desta em relação aos reformados».
Ferreira Leite, que na
sua passagem pelas Finanças ajudou a sobrecarregar a folha de custos da
CGA com a inclusão de fundos de pensões e que cedeu 15 mil milhões de
créditos fiscais e da Segurança Social ao Citigroup para disfarçar o
défice, esquece-se de dizer uma coisa essencial: qual seria, neste
momento, a sua alternativa para reduzir a incomportável despesa do
Estado?
Já José Sócrates, que todos os domingos invoca o chumbo do
PEC IV com uma lágrima ao canto do olho, como se falasse de um urso de
peluche que lhe roubaram na infância, veio avisar o PS que «todas as
eleições têm leituras nacionais» e assegurou ter «a certeza de que, nas
autárquicas, o PSD e o CDS vão ser penalizados pela sua governação».
Eis, como, sub-repticiamente, se baixam as expectativas de voto do PSD e
do CDS. E se eleva ainda mais a fasquia eleitoral do PS e do seu líder.
Seguro
não deixará de registar a simpatia de Sócrates. Tal como Passos Coelho
não ficará indiferente à militante ajuda que Ferreira Leite lhe vem
dando.
«SOL» de 20 Set 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
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