25.9.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
HÁ LÍDERES políticos que saem mal, contrafeitos e ressentidos, dos seus temporários cargos de poder. E que se entregam, em seguida, a constantes e amargos ajustes de contas com o seu passado recente e com aqueles que consideram responsáveis pela ingratidão de que sentem ter sido vítimas. Manuela Ferreira Leite e José Sócrates constituem dois casos exemplares dessa síndrome de rejeição mal resolvida.
A ex-ministra das Finanças e ex-líder do PSD tornou-se uma opositora feroz do Governo do seu partido, espraiando-se em intervenções de tom inflamado e de um radicalismo que se confunde com o Bloco de Esquerda. Sobre a proposta de convergência das pensões públicas da CGA com as do sector privado, implicando cortes médios de 10%, Ferreira Leite veio agora clamar ao país que ela «é profundamente imoral», «verdadeiramente chocante», «uma agressão que provoca marcas irreversíveis nas pessoas», digna de «um Estado no qual não se pode confiar». Para concluir, já em delírio argumentativo, que «um Governo comunista não teria uma decisão muito diferente desta em relação aos reformados».
Ferreira Leite, que na sua passagem pelas Finanças ajudou a sobrecarregar a folha de custos da CGA com a inclusão de fundos de pensões e que cedeu 15 mil milhões de créditos fiscais e da Segurança Social ao Citigroup para disfarçar o défice, esquece-se de dizer uma coisa essencial: qual seria, neste momento, a sua alternativa para reduzir a incomportável despesa do Estado?
Já José Sócrates, que todos os domingos invoca o chumbo do PEC IV com uma lágrima ao canto do olho, como se falasse de um urso de peluche que lhe roubaram na infância, veio avisar o PS que «todas as eleições têm leituras nacionais» e assegurou ter «a certeza de que, nas autárquicas, o PSD e o CDS vão ser penalizados pela sua governação». Eis, como, sub-repticiamente, se baixam as expectativas de voto do PSD e do CDS. E se eleva ainda mais a fasquia eleitoral do PS e do seu líder.
Seguro não deixará de registar a simpatia de Sócrates. Tal como Passos Coelho não ficará indiferente à militante ajuda que Ferreira Leite lhe vem dando. 
«SOL» de 20 Set 13

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