«Dito & Feito»
Por José António Lima
COM UM sorriso nos lábios, Paulo Portas anunciou, há uma semana, o
resultado das 8.ª e 9.ª avaliações da troika e as suas consequências no
Orçamento do Estado para 2014, assegurando que «em nenhuma circunstância
estamos perante um pacote de austeridade».
E sublinhou, com ar
triunfal, que «a TSU dos pensionistas não avançará», sendo substituída
por um conjunto de «pequenas e médias medidas». A seu lado, a ministra
das Finanças, Maria Luís Albuquerque, de semblante fechado e preocupado,
ainda avisou que «todas as medidas de carácter excepcional serão
mantidas no próximo ano». Mas passou a imagem de que, no essencial, o
Governo tinha boas notícias para dar aos portugueses sobre o que os
espera em 2014.
Acontece que, logo no dia seguinte, se veio a
saber que o OE para 2014 vai contemplar um corte de 100 milhões de euros
nas pensões de sobrevivência. Uma espécie de TSU da viuvez que Portas
omitiu deliberadamente na sua comunicação, apesar de estar farto de
saber que a troika impusera essa medida para compensar parcialmente a
retirada da TSU dos pensionistas. O vice-primeiro-ministro
desculpar-se-ia, depois, dessa calculista omissão dizendo que «o desenho
em concreto da medida não estava terminado». Portas já tinha o retrato,
mas faltava-lhe o desenho.
Pior, no entanto, é a mensagem
enganosa de Portas afirmando que «não estamos perante um pacote de
austeridade», quando o OE de 2014 vai ser o mais duro de que há memória
para os portugueses. Com cortes de mais de 3 mil milhões em salários,
pensões, despedimentos e por aí fora. Só em novas medidas que não se
fizeram ainda sentir este ano – cortes nas pensões da CGA, de
sobrevivência e nas tabelas salariais da função pública – o Estado vai
retirar aos bolsos dos portugueses mais 1.285 milhões de euros.
Passos
Coelho, que passou a semana a alertar para as dificuldades e
sacrifícios que traz o OE para 2014, veio queixar-se de um comprometedor
«choque de expectativas».
Só podia estar a referir-se ao seu
colega de Governo, Paulo Portas. Que não se cansa de espalhar ilusões,
de premeditar omissões e de divulgar falsas expectativas. Um verdadeiro
artista da governação em crise.
«SOL» de 11 Out 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
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