16.10.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
COM UM sorriso nos lábios, Paulo Portas anunciou, há uma semana, o resultado das 8.ª e 9.ª avaliações da troika e as suas consequências no Orçamento do Estado para 2014, assegurando que «em nenhuma circunstância estamos perante um pacote de austeridade».
E sublinhou, com ar triunfal, que «a TSU dos pensionistas não avançará», sendo substituída por um conjunto de «pequenas e médias medidas». A seu lado, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, de semblante fechado e preocupado, ainda avisou que «todas as medidas de carácter excepcional serão mantidas no próximo ano». Mas passou a imagem de que, no essencial, o Governo tinha boas notícias para dar aos portugueses sobre o que os espera em 2014.
Acontece que, logo no dia seguinte, se veio a saber que o OE para 2014 vai contemplar um corte de 100 milhões de euros nas pensões de sobrevivência. Uma espécie de TSU da viuvez que Portas omitiu deliberadamente na sua comunicação, apesar de estar farto de saber que a troika impusera essa medida para compensar parcialmente a retirada da TSU dos pensionistas. O vice-primeiro-ministro desculpar-se-ia, depois, dessa calculista omissão dizendo que «o desenho em concreto da medida não estava terminado». Portas já tinha o retrato, mas faltava-lhe o desenho.
Pior, no entanto, é a mensagem enganosa de Portas afirmando que «não estamos perante um pacote de austeridade», quando o OE de 2014 vai ser o mais duro de que há memória para os portugueses. Com cortes de mais de 3 mil milhões em salários, pensões, despedimentos e por aí fora. Só em novas medidas que não se fizeram ainda sentir este ano – cortes nas pensões da CGA, de sobrevivência e nas tabelas salariais da função pública – o Estado vai retirar aos bolsos dos portugueses mais 1.285 milhões de euros.
Passos Coelho, que passou a semana a alertar para as dificuldades e sacrifícios que traz o OE para 2014, veio queixar-se de um comprometedor «choque de expectativas».
Só podia estar a referir-se ao seu colega de Governo, Paulo Portas. Que não se cansa de espalhar ilusões, de premeditar omissões e de divulgar falsas expectativas. Um verdadeiro artista da governação em crise. 
«SOL» de 11 Out 13

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