Ninguém pode dizer que eu não tento...
Por Ferreira Fernandes
A CULPA será minha, admito, mas não ando empolgado. A nossa vida política parece-me uma partida de curling.
Estamos condenados a esperar por 2015, quando dois tipos mornos vão
disputar quem lança a pedra a deslizar pelo gelo. Não é só aborrecido, é
patético. Ontem, Francisco Assis, no jornal Público, dando como
inevitável o bocejante espetáculo, anunciou a hipótese de ao bocejo
seguir-se um programa com melhores artistas, isto é, as presidenciais
com António Costa e Rui Rio. Artistas melhores, é certo, não fora a
função presidencial corresponder àquela coisa quase ineficaz que é
varrer o gelo, a ver se a pedra desliza lentamente para melhor sítio. A
mim, ver sobretudo o Costa agarrado a uma vassoura parece-me um
desperdício.
Como não gosto de inevitabilidades, um dia destes vou a
França falar com Maurice Duverger, o constitucionalista francês que
inspirou o nosso semipresidencialismo (vocês sabem: quem governa é o
Governo, mas o Presidente pode meter o seu pozinho na engrenagem).
Duverger vai a caminho dos 100 anos (nasceu em 1917) e serei cauteloso a
pô-lo ao corrente das minhas angústias. Antes, dir-lhe-ei que lhe estou
muito semiagradecido: não ter hoje um regime presidencialista é uma
bênção. Depois, vou lamentar o bocejo a que ele me votou para 2015.
Finalmente vou perguntar-lhe: pode ter-se uma Constituição
presidencialista só para o mandato a começar em 2016? E, claro, que não
entre em vigor antes...
«DN» de 4 Out 13
Etiquetas: autor convidado, F.F
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