Dois lados, pelo menos, dois lados
Por Ferreira Fernandes
Não é mais do que uma guerra do alecrim e manjerona, trava-se entre dois países amigos, EUA e Índia. Mas já chegámos ao ponto de a Índia retirar as barreiras de betão que protegem a embaixada americana em Nova Deli... Causa do conflito: uma criada. Na semana passada, Devyani Khobragade, vice-cônsul indiana em Nova Iorque, foi presa pela polícia. Meteram-na numa cela com outras detidas e foi revistada na modalidade strip-search, que inclui apalpar cavidades. A vice-cônsul era acusada de ter apresentado dados falsos para o visto de trabalho da sua empregada doméstica, que trouxe da Índia, e de lhe pagar um terço (2,5 euros à hora) do que é o mínimo em Nova Iorque. Para ser libertada, ela teve de pagar caução de 190 mil euros e vai a tribunal. O escândalo focou-se na violação da imunidade diplomática (há controvérsia legítima sobre isso) e na brutalidade policial. As duas razões levaram o Governo indiano a retaliar como já vimos (além de deixar de permitir que a embaixada americana importe whisky). Esse o lado, digamos, de salão da questão. O outro é a condição humilhante com que algum pessoal doméstico de diplomatas é tratado.
Na peça Guerras do Alecrim e Manjerona - e já no século XVIII -, o nosso António José da Silva, se falava dos conflitos dos de cima, não deixou de se ocupar dos amores de Semicúpio e Sevadilha, simples criados. A vida é multifacetada, como os espelhos das embaixadas mostram.
«DN» de 19 Dez 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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