Quando é que estava no 25 de Abril?
Por Ferreira Fernandes
Para mim, a pergunta certa não é "onde", é "quando": "Quando é que estava no 25 de Abril?" Eu digo: "Eu estava ontem. Já ontem, a 24, eu estava a 25." Não ponho o facto ao peito, digo-o porque foi assim. Em 1974, já a 24 de abril, eu estava no que o dia seguinte iria proclamar. E em abril de 73 e 72, e antes e antes... E dou comigo aos 20 anos, já em 1969, a agir em consequência do essencial que significou o 25 de Abril para o meu mundo: dizer não à Guerra Colonial. Com gente boa e admirável, e outra não, de todas as raças, o meu bairro, a minha cidade e o meu país eram marcados por serem coloniais. Isso é um pecado histórico. O colonialismo fixa relações de desigualdade e tem a estupidez de julgar que as pode manter perpétuas. Não foi ideologia nenhuma que me levou, foi um sentimento de pertença: esta é a minha terra, disse eu de Angola, apesar de ser branco e por ser branco. Apesar, porque tendo sido tão poucos a 24 de abril a já termos decidido pelo nacionalismo, alguma coisa haveria de nos afastar dessa escolha; por, porque nunca deixei de amar os meus pais. Na minha Angola cabia a memória da chegada a Luanda do meu pai e do seu irmão, adolescentes solitários e pobres. Fossem simples emigrantes, eram admiráveis; sendo colonos, carregavam o pecado... Também por eles cortei com o colonialismo. Como me disse José Eduardo Agualusa: "Não foste desertor, tu escolheste o lado que era o teu." Exato, amigo, não desertei de escolher.
«DN» de 25 Abr 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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