7.6.14

Choninhas em vias de extinção?

Por Ferreira Fernandes 
Conta Federico Fellini em Amarcord que num domingo de campo, o Tio Teo subiu a uma árvore e gritou: "Voglio una donnaaa!" Solitário, o homem sentia ganas: "Quero uma mulheeer!" A cena é ridícula mas respeitável como um desejo fundo. Os portugueses sabem entender esse grito porque também desejamos seja o que for, mulher ou homem, que nos desenfastie dos choninhas. Se calhar o que os povos querem é só mudança: afinal, depois de uma mulher forte, Margaret Thatcher, os ingleses escolheram um banana, John Major. Em todo o caso, tendo como certo os incertos e baços Passos Coelho e António José Seguro, os portugueses gostariam de alguma coisa substancial. Para nós, hoje, a mudança seria um político credível e forte. Qualquer um, não que nos mereça a confiança, isso só os factos irão, ou não, prová-lo no futuro, mas que nos dê a esperança de confiar. No filme, o Tio Teo é um maluco internado, não é a pessoa mais indicada para decidir o que deve ser. Mas o seu grito é para ser ouvido porque vale mais do que insatisfação calada de todos que nos rói e mata a vontade geral. Portugal, país com grandes líderes recentes, Sá Carneiro, Soares, Cunhal, não se pode conformar com a subespécie de políticos que lhe calhou, agora, em hora tão grave. Ontem, António Costa varreu para canto os patéticos truques de Seguro, e preferiu falar do governo do País. É meio caminho andado, que se tornará pleno quando, à direita, alguém capaz fizer o mesmo.
«DN» de 7 Jun 14

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