12.7.14

Fazer "selfie" na largada de San Fermín

Por Ferreira Fernandes 
O argumento de autoridade foi dado no funeral de Mandela: se líderes políticos e até o poderoso Barack Obama podem fazer-se selfies durante uma cerimónia triste e oficial, porque não eu, em qualquer circunstância? Agora, nas largadas de San Fermín, já há quem corra nas ruas de Pamplona, olho na câmara, fotografando-se com as hastes pontiagudas do touro a morder--lhe as nádegas - o selfie suicida. Este é um argumento de coragem, capaz de tornar ainda mais viral esta atividade. O selfie é uma prática tola, há quase sempre alguém por perto disposto a fazer facilmente e melhor o que pretendemos fazer com dificuldade e desfocado. E é uma prática que vai mais longe do que o "ó pra mim!" do vaidoso - com o selfie ele abdica do interesse dos outros para se dedicar a ser o único espectador de si mesmo. A técnica limitada - no fundo, é só estender o braço e virar a objetiva para si - obriga a moda a procurar ideias cada vez mais insólitas. Ainda vamos ver o guarda-redes alemão Manuel Neuer a estender o braço esquerdo para melhor captar o voo da sua luva direita. Ou um marido a fazer selfie durante o ato como retaliação justa para a mulher que, na mesma ocasião, masca chiclete e lê a Nova Gente. E haverá mortos que, apostando no espasmo cadavérico, levam a câmara fotográfica para o velório: o braço a sair do caixão no selfie final causará um efeito comentadíssimo. Sobretudo se houver flash
«DN» 12 Jul 14

Etiquetas: ,