Tão rara,tão necessária e tão justa
Por Ferreira Fernandes
É tão rara, tão necessária e tão justa que tem de ser assinalada. Na sexta-feira, frente à Grande Mesquita de Paris, uma manifestação de algumas centenas de muçulmanos solidarizou-se com o francês Hervé Gourdel, dias antes degolado na Argélia por um grupo local ligado à organização do Estado Islâmico (EI). No vídeo, inspirado nos do EI decapitando reféns, uma voz justificava o assassínio de Gourdel por ser "um porco francês". Foram respondidos à letra pelos manifestantes de Paris que, ao apelo do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), disseram: "Somos todos porcos franceses." Gente comum, com a condição de muçulmana, disse que não admite que bárbaros falem por ela. Vários cartazes, escritos à mão, diziam: "Não em Nosso Nome." Já cá faltavam. Há cinco milhões de muçulmanos em França e são muitas as suas organizações. Nem todas aceitaram a iniciativa do CFCM porque recusam, como disse o Coletivo contra a Islamofobia em França, "a culpabilização sistemática das pessoas de religião muçulmana." Essa recusa tem sido um erro trágico. Perante os sucessivos e cada vez mais terríveis atos dos radicais islâmicos, cometidos certamente por minorias, as comunidades muçulmanas deixaram-se encafuar na ausência de repúdio. Tem faltado a rua. Os europeus muçulmanos têm de se fazer ouvir. Não têm de dar explicações aos seus compatriotas de outros credos. Mas a si próprios têm. E alto.
«DN» de 28 Set 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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