Cavaco e o 10 de Junho
Por
Antunes Ferreira
O
discurso do suposto Presidente da República, nas comemorações do Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, agradou à coligação no poder
e recebeu críticas dos partidos da oposição. De tão repetitiva, a intervenção de
Aníbal Cavaco Silva já se pode qualificar de calina, obtusa, partidária e
vingativa. Tudo “qualidades” que o Chefe do Estado se esforçou por demonstrar
em Lamego.
Mais
laranja do que os laranjas, ou seja, mais papista do que o Papa, Cavaco encostou-se
ao (des)Governo que nos calhou em (má) sorte. O alinhamento foi perfeito. Se
ainda pudesse haver dúvidas sobre as intenções e as inclinações (e poucas havia
já), as palavras por ele proferidas
confirmaram o que já se sabia: as hostilidades com a oposição, com esta
oposição, entraram em velocidade mais do que de cruzeiro. Benza-o Deus, a
Senhora de Fátima e quiçá o “santo” Padre Cruz. Resumindo: a Trindade
Santíssima do (ainda) inquilino de Belém.
De resto,
para ele e para os seus correligionários, o 10 de Junho regrediu uns bons anos
– isto é aos do antes do 25 de Abril. A mesma solenidade hirta, os mesmos fatos
negros, as mesmas gravatas de cerimónia, tudo se conjugou para, na cidade do
distrito de Viseu, situada no que foi a tradicional Província de Trás os Montes
e Alto Douro, se reviver as cerimónias do Terreiro do Paço. Só faltaram as
crianças que ali se deslocavam para receber a título póstumo as medalhas
conquistadas na guerra colonial pelos seus falecidos pais.
O que,
convenhamos, é pior do que mau – é péssimo. Os militares que participaram na
encenação (pois que mais lhe havemos de chamar?) foram similares à Brigada do
Reumático em que Marcelo Caetano acreditou - quando lhe foi prestar preito de
vassalagem – que era a legítima represente das forças Armadas. Depois, foi o
que se viu: o movimento dos capitães que resultaria no MFA, o Movimento das
Forças Armadas, que o apeou do cavalo do poder.
Agora, os
oficiais que já tinham tentado entregar
as respectivas condecorações no palácio presidencial, o que lhes foi
recusado, entenderam não participar no que pôde (e pode) considerar uma
fantochada triste e enfadonha. Uma outra vez ficou feito o aviso: Sua
Excelência o Presidente da República, aliás reeleito, que tome cuidado: Cuidado
porque há coisas que acontecem e que depois delas não se pode chorar nem apelar
ao povo português. É como o leite derramado. O point of no return.
Porém o
verdadeiro presidente do PSD continuou a participar na pré campanha eleitoral
do seu partido, impávido e sereno no preciso momento em que todos os membros
que vivem pela rua de São Caetano à Lapa se mobilizavam para voltar a levar ao
poder a coligação dos sociais democratas(?) e dos centristas. É obra. E
desfaçatez.
Entre as
muitas críticas que recebeu e muito justificadamente dos partidos da esquerda
parlamentar, o PCP, o BE, os Verdes, há que ressaltar a posição da maior força
oposicionista: o Partido Socialista: transcrevo o que disse a comunicação
social verdadeira:
Os
portugueses esperavam que Cavaco Silva tivesse sido o seu porta-voz e menos o
eco do Governo", afirmou António Costa, em declarações aos jornalistas à
entrada para a recepção da cerimónia que assinalou o 10 de Junho no Luxemburgo.
Para o secretário-geral do PS, "o Presidente da República, pela
cobertura que tem dado a este Governo, tem contribuído para o desânimo e para a
descrença", pelo que, argumentou, a alternativa do PS "vai contribuir
para virar a página".
"O senhor
Presidente da República pode estar tranquilo porque, conforme nos vamos
aproximando das eleições, o desânimo e pessimismo vão dando lugar à confiança
que os portugueses têm de que há uma alternativa que lhes vai permitir virar a
página da austeridade, relançar a economia e criar emprego", afirmou.
António Costa disse
ainda estar "certo" de que vai "herdar uma situação muito
difícil, uma dívida muito pesada, tal como aconteceu em [Câmara Municipal]
Lisboa". A este propósito, defendeu que, tal como aconteceu na autarquia,
saberá "resolver a situação das finanças públicas sem sacrificar os
direitos dos portugueses e a economia".
Apesar das críticas a
Cavaco Silva, o secretário-geral do PS considerou positiva a homenagem póstuma
ao antigo ministro da Ciência Mariano Gago (a quem em vida não a teria tido e
nãoteve) e ainda afirmou que o Presidente da República "fez uma análise
justa ao esforço do professor Teixeira dos Santos da gestão que fez das
finanças públicas num momento tão crítico da economia mundial".
Os dados estão lançados;
aliás já estavam. Em Outubro, nas urnas, Cavaco terá a resposta devida – se os
portugueses não continuarem a ter a memória curta que usam ter habitualmente.
Etiquetas: AF
5 Comments:
Não toma comprimidos por isso a raiva mais parece de cão do que de gente. Vá a votos e depois conte-os.
Um PIO raivoso. Parece daqueles que tem pensão de 300€ e berram ao longo de kilómetros que lhes estão a roubar a pensão.
E assim se enganam os tolos.
Humildade precisa-se
Eu, porque tomo os comprimidos, subscrevo inteiramente o texto publicado.
Muito bem dito, Henriquamigo!
Abraço
Caro,caro? Caríssimo senhor opjj
Esqueceu-se de tomas 12 gotas antes de se deitar. Não é mau, é péssimo.
Antunes Ferreira
O opjj vive em que galáxia?
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