CANJA DE AMEIJOAS
Por A. M. Galopim de Carvalho
Nesse tempo, o
da minha infância, nos anos 30 do século passado, ainda a minha irmã mais nova
não tinha nascido, as ameijoas verdadeiras, (as de nome científico Ruditapes decussatus, Lineu 1758), mais
do que quaisquer outros bivalves, eram comuns e relativamente abundantes no
mercado municipal de Évora. Ao contrário de hoje, eram acessíveis, em termos de
preço, entrando com frequência nas casas das famílias mais modestas, como a
nossa, de pai empregado de escritório, mãe doméstica e cinco filhos, três
rapazes e duas raparigas, a alimentar.
Como confecção
de caldo a anteceder o prato de um almoço ou de um jantar, fazendo de sopa, a minha
mãe fazia muita vezes (e eu retive na memória como se faz) canja de ameijoas.
Terrina na mesa
a fumegar e a libertar o saudoso aroma a maresia, a mãe servia, primeiro, o
pai, depois por ordem de idades, os filhos, a começar pelo mais velho. E só
depois de me servir a mim, o mais novo, se servia a ela, já a ouvir as
reclamações deste ou desta porque o irmão ou a irmã ficara com mais um ou dois “bichos”
do que ele ou ela.
- Calem-se e
comam. – Ralhava. - Eu não posso estar a contar as ameijoas que vão no cace. Para
a próxima ficas tu com mais.
Algumas vezes,
com três ou quatro ameijoas buscadas no fundo da terrina, rapidamente se
conseguia a igualdade reclamada e a necessária compostura à mesa. O pai não dizia nada. Comia calado, indiferente
a estes e outros desaguisados de pequena monta. Habitualmente, não intervinha
nestas contendas menores. Sempre se reservou para as situações mais graves, que
as houve, naturalmente, como em quaisquer famílias.
Mas voltemos à
canja de ameijoas.
.
Receita
1 kg de
ameijoas verdadeiras, vivas e bem depuradas
100 g de
arroz carolino
1 L de
água
1 cebola
média muito bem picada
1 ou 2
pés de salsa
1 golada
de azeite
Leve a água a ao lume e, estando a ferver, introduza as ameijoas.
Deixe-as abrir completamente e retire-as com a escumadeira, um
ou dois minutos depois.
Retire e rejeite a salsa.
Retire os “bichos”, reserve-os e rejeite as cascas.
Volte a pôr a água ao lume, com a cebola e a salsa, tempere de
sal, junte o azeite e coza o arroz.
Momentos antes de retirar do lume, retire a salsa, acrescente o
miolo das ameijoas e sirva bem quente.
Se gostar adicione, no prato, umas gotas de limão.
Bom apetite
Nota:
Cace é uma maneira muito alentejana de dizer conha de servir a sopa.
Nunca
experimentei confecionar este prato com mexilhão, mas vou experimentar.
Etiquetas: GC
1 Comments:
Ora, cá está (mais) uma (boa) receita do Professor Galopim.
Digo boa, antes de a experimentar, porque todas as que saboreei são (muito) boas.
E, como outras, é boa porque está (a mim parece-me que está) ao alcance da minha (muito pobre) capacidade de execução.
A minha mulher concorda comigo, pelos dois motivos.
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