Sem emenda - O Governo dos rapazes
Por António Barreto
Estes têm sido dias difíceis. Não
por cansaço, que ainda não é tempo para tanto. Mas por falta de perícia. E de
sabedoria. A remodelação de um ministro e dois secretários de Estado foi
desagradável. Não mais do que isso, mas suficiente para revelar desordem nos
espíritos.
O processo que conduziu à
demissão do Chefe de Estado-maior do Exército tresanda a política, oportunismo
e rivalidade. A posição do ministro ficou frágil.
A Educação parece calma, pois os
sindicatos entenderam que era melhor abrandar a fim de bater mais tarde. O
ministro não acerta, mas contenta os clientes. Ganha tempo, mas perde força.
Já se começam a sentir os efeitos
das mãos generosas do governo. Por um lado, subida nas sondagens. Não muito,
mas o suficiente para fazer sorrir. Por outro lado, o aperto financeiro.
Começam a desaparecer as “folgas”…
A questão das nomeações continua
viva. Há anos. Com todos os governos. Desta vez, com o Bloco e o PCP no radar,
será ainda mais complexo. Cargos para os camaradas surgem todos os dias.
Dirigentes seleccionados pela CRESAP já foram substituídos por decisão política
discricionária. São inéditos os ataques ao Banco de Portugal.
Foi insólita a designação,
nomeação e contratação do “meu melhor amigo há muitos anos” para tratar das
situações delicadas, da TAP ao BANIF e ao BES passando por Angola… Assim é que
se perpetua uma prática que conduziu à decapitação do Estado. Retirou-se-lhe a
capacidade técnica e científica e procura-se nos escritórios, nas agências e
nas empresas de consultoria os juristas, os advogados, os economistas e os
engenheiros à altura. O Estado não emagrece, perde a cabeça. E fica dependente.
As trocas de acusações entre o
Governo, os partidos, o Banco de Portugal, o Banco Central Europeu e a Comissão
da União Europeia já foram longe de mais e deixaram sequelas. A esta altura de
responsabilidades é impossível ficar impune e imune. Os acima nomeados já se
trataram de mentirosos… Nunca se viu uma tal guerra aberta e ácida que
enfraquece o país e a economia. É possível que a banca portuguesa não se venha
a recompor tão cedo! Já tínhamos um logo percurso de erros, aldrabices e
imperícia. Com a situação financeira internacional menos dramática, esperava-se
que fosse possível salvar alguma coisa da banca portuguesa ou manter os pilares
e as traves mestras de um sistema financeiro. É cada vez mais causa perdida.
O primeiro-ministro está
radiante. Acredita no seu talento negocial e naquilo a que os jornalistas
chamam há vários meses a sua grande habilidade, sem se dar conta de que é o
pior que se pode dizer de alguém. Está satisfeito com a suavidade do Presidente
Marcelo. Jubila com a cordialidade pacata do Bloco e a macieza do PCP.
Liderar um governo ou um país tem
exigências. Uma delas consiste na necessidade de ser ou ter algo mais do que
jeito para resolver problemas. A direcção política não se resume à habilidade
para tratar de conflitos. A negociação permanente com os partidos, parceiros e
grupos de pressão traz informação e traquejo, há mesmo quem lhe chame
democracia, o que não é a mesma coisa. Mas é errada a crença de que a liderança
resulta da negociação. É exactamente o contrário. A boa negociação resulta da
capacidade de liderança. Da inspiração. Da existência de uma política.
Das peças avulso de um puzzle não
sai uma imagem. A percepção da imagem é que vai ordenar as peças. Das azinhagas
não sai um percurso. É o objectivo que selecciona os caminhos, o fim que define
os meios. Ao contrário do que gostam de dizer os adolescentes românticos, o
caminho não se faz caminhando. É o destino que desenha o itinerário.
É provável que António Costa
venha a dizer aos colaboradores, aos membros do governo e aos apoiantes no
Parlamento: “Já que sou o vosso Primeiro-ministro, sigo-vos!”.
DN, 17 de Abril de 2016
Etiquetas: AMB
2 Comments:
Se o ministro da educação contenta os clientes, então os professores não se contam entre os clientes. Pelo menos na parte que me toca.
Calma, a educação? Ou apodrecida?
Que o minsitro (e ministério) não acerta(m), nisso estamos de acordo.
Com muita pena.
Os partidos políticos dariam uma grande prova de maturidade democrática, se, ao assumirem o poder fizessem um rigoroso diagnóstico das situações herdades nos vários ministérios. O que estava a correr bem, continuaria até serem alcançados os objectivos desejados. Talvez assim se evitasse as constantes reformas e mini reformas que se vão fazendo e das quais não se consegue vislumbrar nenhum resultado. Vivemos em contínuo período experimental. Refiro-me, particularmente à Educação. Ser oposição, não é ser sempre do contra. Também seria importante acabar com o clientelismo político.
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