5.5.16

Sem emenda - Pais e filhos. E professores…

Por António Barreto
A moda está a pegar. Já tínhamos reuniões bilaterais periódicas, semanais ou não, entre os três partidos da quase coligação, a fim de verificar, acompanhar e aprofundar. Sem falar nas reuniões permanentes entre os representantes do governo e dos dois partidos que apoiam mas não fazem parte. Já havia também as reuniões regulares entre os responsáveis pelos grupos parlamentares dos três partidos e meio que apoiam o governo. E ainda tínhamos as reuniões temáticas ou de grupos de trabalho dos dois ou três partidos a fim de desenvolver legislação e programas específicos. Agora, temos uma novidade absoluta: as reuniões trimestrais entre o ministro da educação e os sindicatos de professores. Para acompanhar as medidas e a acção do ministério, diz a FNE, Federação Nacional de Educação. Para avaliar as políticas de educação, diz a FENPROF, Federação Nacional de Professores. Estas reuniões não substituem as negociações laborais, que continuam com a sua dinâmica própria.
Com as devidas distâncias e diferenças, este procedimento faz lembrar um famigerado Estatuto do Estudante outorgado há muitos anos por um dos governos de Cavaco Silva. Esse estatuto, com a força de um decreto-lei que o aprovava e lhe dava força de lei, concedia aos estudantes poderes e competências inimagináveis. Eram estudantes universitários e do secundário, sublinhe-se. Participação em órgãos de direcção, controle de gestão, co-gestão e avaliação, tudo era concedido aos estudantes, os mais novos dos quais teriam cerca de 15 anos!
Nos dois casos, a demagogia e a abdicação das responsabilidades governativas impressionam tanto quanto a escolha de um parceiro privilegiado em detrimento dos outros interessados no mesmo assunto ou na mesma política pública. Quem assim age, falará evidentemente de democracia e diálogo! Mas não é uma coisa nem outra. Corporativismo? Talvez. Infiltração política? Seguramente. Eleitoralismo? Provavelmente.
É este o momento para recordar os eternos marginalizados das políticas educativas: os Pais. Por vários motivos, estes são sistematicamente afastados das responsabilidades que deveriam ser suas. Uns não querem saber, gostariam mesmo que a escola se ocupasse de tudo e o mais tempo possível, sendo uma espécie de substituto completo para as funções paternas. Outros estão disponíveis e prontos a assumir responsabilidades, mas foram praticamente expulsos das escolas, das reuniões, das preocupações e da gestão. Muito poucos conseguem estar presentes e ser aceites. Na maioria dos casos, são detestados pelo ministério, pelos professores e pelos sindicatos. Durante décadas, nos textos de lei, falava-se de “comunidade educativa”, o que ainda hoje acontece nalguns casos. Quando se lê com cuidado, rapidamente se percebe que, para o ministério da educação e para os partidos políticos (pelo menos o PS, o PSD e o PCP), a comunidade inclui os professores e os alunos, ponto final. Nem autarcas, nem associações locais, nem sociedades, nem empresários… E muito menos os pais. Metediços, ignorantes e incompetentes, são os epítetos que muitos professores e quase todos os sindicatos reservam para os pais dos seus alunos. No que são acompanhados pelo ministério que jamais fez reais esforços para interessar os pais e lhes dar tempo, proporcionar estruturas de participação sincera e atribuir responsabilidades e poderes.
Este é um velho e desastroso defeito da educação em Portugal, da sua escola e das políticas educativas. Os professores não são obrigados a ter em conta os pais e a sociedade. As comunidades locais ficam indiferentes às suas escolas. Os alunos procuram esgueirar-se entre pais e professores. Poucos pais assumem as suas responsabilidades. Se alguém pretende melhorar a escola, é por aqui que deve começar: pela comunidade e pelos pais.

DN, 1 de Maio de 2016

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Curioso: na escola em que trabalho há uma associação de pais que está muito próxima de toda a actividade escolar e até há pouco tempo (o ano passado) foi presença assídua no conselho pedagógico. Por outro lado, há um órgão - o conselho geral -, muito partidarizado em muitas escolas/agrupamentos, em que os professores terão metade dos elementos e onde os restantes são precisamente pais, autarcas, universitários, instituições... Na minha escola, até as reuniões de avaliação, no final de cada período (e no final do ano) lectivo, têm, na primeira meia hora (antes de "dar as notas"), o representante dos encarregados de educação da turma. O que acontece, porém, é que as pessoas das universidades, os empresários e outras personalidades têm mais que fazer do que ir gastar horas para a escola. Por outro lado, a presença de um encarregado de educação num conselho de turma de avaliação, momentos antes de lançar as "notas", revela o que é óbvio: esse encarregado de educação representa-se a ele próprio e não sabe nada dos outros nem lhes comunica nada depois da reunião... É quase sempre assim.
E até já houve situações indesejáveis como estar nessa meia hora do início do conselho de turma um aluno como representante dos alunos e o pais desse aluno como representante dos encarregados de educação (enfim, fica tudo em família...).
A realidade das escolas é diferente do que muitas pessoas (supostamente) bem informadas supõem...

5 de maio de 2016 às 22:31  
Blogger Ilha da lua said...

O envolvimento dos pais e da comunidade no processo educativo é do meu ponto de vista o mais acertado. Mas, enquanto não soubermos trabalhar em conjunto em prol de um objectivo, pouco se conseguirá. A realidade que passa é que, de uma maneira geral, os professores sentem os pais como uma ameaça e os pais sentem que são uma espécie de controladores dos professores(é óbvio, que haverá excepções. A escola devia ser um local aberto em que professores pais e comunidade cooperassem, sem invadir as respectivas áreas de cada um.

6 de maio de 2016 às 00:27  

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