Sem emenda - As sanções europeias
Por António Barreto
Depois de ter a certeza de que as
instituições europeias não castigariam Portugal, os partidos parlamentares
decidiram aprovar um protesto contra as eventuais sanções. Não havia riscos e
ficavam todos bem, pensava-se. Assistiu-se então ao espectáculo lamentável de
um Parlamento que não se entende a propósito de um voto “patriótico” de
repúdio! Qual associação de estudantes, aquela assembleia, perante uma
hipotética ameaça europeia, nem um texto medíocre aprovou. Protestar daquela
maneira é adolescente e prova de menoridade. Mas nem sequer conseguir alinhar
três parágrafos sobre o assunto é simplesmente infantil! E sinal de que o clima
político está mau, a caminho de péssimo. Foram aprovados dois protestos… Os
socialistas votaram dos dois lados…
Deveria, evidentemente, haver
sanções. Não há outra maneira de estimular um país à disciplina orçamental e
financeira. A proverbial incapacidade dos Portugueses para conseguir disciplina
e rigor financeiro só pode ser tratada de duas maneiras. Uma, com ditadura, o
que já foi experimentado no passado com os maus resultados conhecidos. Outra,
com sanções impostas por quem tem legitimidade para o fazer, o que só parece
competir à União Europeia.
Portugal é incapaz de alcançar de
livre vontade os equilíbrios financeiros e orçamentais necessários a um bom
desenvolvimento económico. A adesão ao Euro, há quinze anos, justificava-se
pela necessidade de pôr ordem nas finanças portuguesas. A seriedade europeia,
prolongamento da severidade alemã, era um excelente argumento para justificar a
adopção do Euro. Infelizmente, os resultados foram os piores. A indisciplina
portuguesa aumentou. A complacência europeia foi total. O interesse dos países
exportadores e credores transformou-se em cumplicidade e co-autoria dos
desmandos. A demagogia, a corrupção e a trapaça bancária foram moeda corrente
durante duas décadas. Mais ou menos aquelas durante as quais Portugal deixou de
crescer. Até hoje.
É todavia ridículo e ilegítimo impor
sanções a Portugal e, ao mesmo tempo, desculpar a França e ser complacente com a
Itália e a Grécia. E já ter desculpado a Alemanha, quando ela precisou. Além disso,
a União Europeia e o BCE não souberam, durante quinze anos, impor disciplina e ser
mais severos no acompanhamento. Sem equidade e sem eficácia, a União perde
autoridade.
Este não é o momento para impor
sanções a Portugal nem a qualquer outro país. A União tem primeiro de se
reconstruir, depois podemos voltar a pensar nisso. Mas, se não houver sanções,
nem agora, nem mais tarde, em Portugal ou noutro membro não cumpridor, nunca
mais haverá disciplina. Nem cá, nem lá. E se assim for, adeus Europa, adeus
União!
Começa a desenhar-se uma “frente
comum”, uma “aliança implícita” entre países do Sul, Latinos, mediterrânicos e
socialistas: Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. Esta convergência pode
dar mais peso a uma eventual posição portuguesa. Mas o problema é que com este
sindicato de caloteiros, jamais conseguiremos o mínimo de disciplina necessária
a um esforço de investimento e de crescimento. Com tantos economistas à solta
por essa Europa fora, não se conseguirão inventar mecanismos mais eficientes de
salvaguarda da disciplina orçamental e financeira e do rigor nas contas
públicas?
Para os Portugueses, o grande
problema é o endividamento e o défice público. Nestes capítulos, Portugal é
incorrigível. Aproveitam-se todas as oportunidades para aumentar a dívida e a
dependência. Os Portugueses não têm vergonha de dever dinheiro aos outros. São
tão perversos que até se sentem bem, isto é, com direito a ter dívidas! Não têm
emenda, parece que só a mal ou à força é que os Portugueses ganham juízo
financeiro!
DN, 12 de Junho de 2016
Etiquetas: AMB
3 Comments:
Ser caloteiro já foi uma vergonha. Agora parece ser uma "honra". Creio que, em Portugal, os fracos líderes fazem grandes, enormes, as fraquezas do povo. Mas a Europa está uma indignidade. Também aí, agora como nunca, fazem falta líderes lúcidos, serenos e corajosos.
Para onde vamos, não sei. Mas parece-me que não vamos acabar muito bem.
Como compor os cacos, cá dentro e lá fora?
Vivemos uma época em que ninguém é responsável por nada, nem coisíssima nenhuma. O governo gere mal a coisa pública(sempre culpa do governo que o antecedeu) e quem paga é o contribuinte. Os bancos geridos(mal geridos) por administradores pagos a peso de ouro, se vão à falência quem paga são os depositantes. E,por aí fora. Perdeu-se, completamente o respeito pelos eleitores. De resto, nem é de estranhar, pois quem os elege, nem os conhece, não sabe quem são e por vezes nem vivem no círculo eleitoral por onde concorrem. As campanhas eleitorais privilegiam as arruadas um tanto ou quanto carnavalescas em detrimento de debates sérios e esclarecedores. Não admira, pois, que no nosso hemiciclo se assistam a votações como esta que o dr. António Barreto tão bem analisou. Não interessa discutir,seriamente o porquê das sanções. Não interessa discutir seriamente porque não cumprimos. Não interessa que saibamos, as medidas necessárias para as podermos cumprir. Numa total irresponsabilidade em assunto tão sério, assistimos a uma discussão parlamentar em que os interesses partidários falaram mais forte que os interesse do país, num hemiciclo medíocre e mesquinho(cada vez, com menos e honrosas excepções)
Subscrevo totalmente o texto do Dr. António Barreto e os comentários de José batista e Ilha da lua.
Fiquei sem "espaço" para dizer mais qualquer coisa.
Enviar um comentário
<< Home