14.6.16

Sem emenda - As sanções europeias

Por António Barreto
Depois de ter a certeza de que as instituições europeias não castigariam Portugal, os partidos parlamentares decidiram aprovar um protesto contra as eventuais sanções. Não havia riscos e ficavam todos bem, pensava-se. Assistiu-se então ao espectáculo lamentável de um Parlamento que não se entende a propósito de um voto “patriótico” de repúdio! Qual associação de estudantes, aquela assembleia, perante uma hipotética ameaça europeia, nem um texto medíocre aprovou. Protestar daquela maneira é adolescente e prova de menoridade. Mas nem sequer conseguir alinhar três parágrafos sobre o assunto é simplesmente infantil! E sinal de que o clima político está mau, a caminho de péssimo. Foram aprovados dois protestos… Os socialistas votaram dos dois lados…

Deveria, evidentemente, haver sanções. Não há outra maneira de estimular um país à disciplina orçamental e financeira. A proverbial incapacidade dos Portugueses para conseguir disciplina e rigor financeiro só pode ser tratada de duas maneiras. Uma, com ditadura, o que já foi experimentado no passado com os maus resultados conhecidos. Outra, com sanções impostas por quem tem legitimidade para o fazer, o que só parece competir à União Europeia.

Portugal é incapaz de alcançar de livre vontade os equilíbrios financeiros e orçamentais necessários a um bom desenvolvimento económico. A adesão ao Euro, há quinze anos, justificava-se pela necessidade de pôr ordem nas finanças portuguesas. A seriedade europeia, prolongamento da severidade alemã, era um excelente argumento para justificar a adopção do Euro. Infelizmente, os resultados foram os piores. A indisciplina portuguesa aumentou. A complacência europeia foi total. O interesse dos países exportadores e credores transformou-se em cumplicidade e co-autoria dos desmandos. A demagogia, a corrupção e a trapaça bancária foram moeda corrente durante duas décadas. Mais ou menos aquelas durante as quais Portugal deixou de crescer. Até hoje.

É todavia ridículo e ilegítimo impor sanções a Portugal e, ao mesmo tempo, desculpar a França e ser complacente com a Itália e a Grécia. E já ter desculpado a Alemanha, quando ela precisou. Além disso, a União Europeia e o BCE não souberam, durante quinze anos, impor disciplina e ser mais severos no acompanhamento. Sem equidade e sem eficácia, a União perde autoridade.

            Este não é o momento para impor sanções a Portugal nem a qualquer outro país. A União tem primeiro de se reconstruir, depois podemos voltar a pensar nisso. Mas, se não houver sanções, nem agora, nem mais tarde, em Portugal ou noutro membro não cumpridor, nunca mais haverá disciplina. Nem cá, nem lá. E se assim for, adeus Europa, adeus União!

Começa a desenhar-se uma “frente comum”, uma “aliança implícita” entre países do Sul, Latinos, mediterrânicos e socialistas: Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. Esta convergência pode dar mais peso a uma eventual posição portuguesa. Mas o problema é que com este sindicato de caloteiros, jamais conseguiremos o mínimo de disciplina necessária a um esforço de investimento e de crescimento. Com tantos economistas à solta por essa Europa fora, não se conseguirão inventar mecanismos mais eficientes de salvaguarda da disciplina orçamental e financeira e do rigor nas contas públicas?

Para os Portugueses, o grande problema é o endividamento e o défice público. Nestes capítulos, Portugal é incorrigível. Aproveitam-se todas as oportunidades para aumentar a dívida e a dependência. Os Portugueses não têm vergonha de dever dinheiro aos outros. São tão perversos que até se sentem bem, isto é, com direito a ter dívidas! Não têm emenda, parece que só a mal ou à força é que os Portugueses ganham juízo financeiro!

DN, 12 de Junho de 2016

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3 Comments:

Blogger José Batista said...

Ser caloteiro já foi uma vergonha. Agora parece ser uma "honra". Creio que, em Portugal, os fracos líderes fazem grandes, enormes, as fraquezas do povo. Mas a Europa está uma indignidade. Também aí, agora como nunca, fazem falta líderes lúcidos, serenos e corajosos.
Para onde vamos, não sei. Mas parece-me que não vamos acabar muito bem.
Como compor os cacos, cá dentro e lá fora?

14 de junho de 2016 às 11:49  
Blogger Ilha da lua said...

Vivemos uma época em que ninguém é responsável por nada, nem coisíssima nenhuma. O governo gere mal a coisa pública(sempre culpa do governo que o antecedeu) e quem paga é o contribuinte. Os bancos geridos(mal geridos) por administradores pagos a peso de ouro, se vão à falência quem paga são os depositantes. E,por aí fora. Perdeu-se, completamente o respeito pelos eleitores. De resto, nem é de estranhar, pois quem os elege, nem os conhece, não sabe quem são e por vezes nem vivem no círculo eleitoral por onde concorrem. As campanhas eleitorais privilegiam as arruadas um tanto ou quanto carnavalescas em detrimento de debates sérios e esclarecedores. Não admira, pois, que no nosso hemiciclo se assistam a votações como esta que o dr. António Barreto tão bem analisou. Não interessa discutir,seriamente o porquê das sanções. Não interessa discutir seriamente porque não cumprimos. Não interessa que saibamos, as medidas necessárias para as podermos cumprir. Numa total irresponsabilidade em assunto tão sério, assistimos a uma discussão parlamentar em que os interesses partidários falaram mais forte que os interesse do país, num hemiciclo medíocre e mesquinho(cada vez, com menos e honrosas excepções)

14 de junho de 2016 às 16:46  
Blogger SLGS said...

Subscrevo totalmente o texto do Dr. António Barreto e os comentários de José batista e Ilha da lua.
Fiquei sem "espaço" para dizer mais qualquer coisa.

15 de junho de 2016 às 19:11  

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