Sem emenda - As dívidas da Pátria
Por António Barreto
Já hoje sofremos sanções e não é
pouco! Os juros que pagamos são superiores aos dos outros países. Os investimentos,
nacionais e estrangeiros, caíram a pique. Continua a exportação de capitais
para países mais seguros e bancos mais honestos. Nos mercados, o dinheiro para
Portugal é escasso ou muito caro. Os credores internacionais têm dúvidas. Todas
estas realidades têm nomes mais técnicos e suaves, mas são verdadeiras sanções.
Parece que não chegam! Ainda são precisas mais!
Como é evidente, devemos pagar
sanções. E ser punidos. É bom que assim seja. A impunidade é um defeito grave.
Quem não faz o que deve tem de assumir as consequências. Em última análise, quem
sofre com as sanções são os contribuintes. Sabemos isso. Por isso as sanções
podem ser injustas. Mas são instrumentos necessários a pôr os políticos em
ordem e a obrigá-los a ter disciplina. Sobretudo é o modo de informar os
eleitores que os seus políticos governaram mal, tomaram decisões erradas,
gastaram o que não é deles e não fizeram contas porque queriam ser eleitos. As
sanções são uma condição necessária à formação de um juízo racional dos
eleitores. Sem sanções, não há políticos a despedir, não há governantes
indisciplinados a castigar, não há mentirosos a punir, nem há demagogos a
contrariar!
Distribuir o que não há, gastar a
mais e não pagar dívidas merece castigo! Mentir nas contas, gerir mal e
favorecer a corrupção deve ser punido! Decretadas pelas autoridades
competentes, as sanções servem para tornar evidentes aos eleitores os erros e
os defeitos dos seus políticos.
Por isso é confrangedor o actual
debate sobre sanções, assim como a onda de patriotismo bacoco que o governo e
os seus apoiantes fomentam. É ridículo declarar guerra à União Europeia e à
Alemanha! É idiota invocar a pátria para aumentar a dívida! É infantil tentar
camuflar os erros políticos sob as roupagens da dignidade nacional! O
patriotismo sempre foi o refúgio dos demagogos, dos ditadores e dos aldrabões.
Estamos a chegar lentamente ao
país dos crédulos: nós temos sempre razão, eles, nunca! Os debates
parlamentares resumem-se a isto. Os fiéis de um culto só acreditam no seu
sacerdote. Os simpatizantes de um partido só confiam nele. O pensamento é o do
rebanho. Inteligência, informação, razão e rigor são dispensados. Estas semanas
de futebol só vieram agravar os espíritos. O que importa é ganhar, nem que seja
com a mão, dizia alguém na televisão. A lógica é a mesma. Com argumentos
nacionalistas, que as esquerdas envergonhadas designam por patrióticos, com
emoções patetas e com sentimentos totalmente deslocados, pretende-se manter
aliados e iludir eleitores. Sendo que os apoiantes comunistas e bloquistas
querem mais do que isso. Querem mesmo dar cabo do Euro, do Tratado orçamental e
desta União. Para o que esperam evidentemente pela cumplicidade pacóvia dos
socialistas e pelos sentimentos patrióticos dos Portugueses vexados na sua
dignidade nacional!
Verdade seja dita que os outros
intervenientes não se portam melhor. O que faz com que seja difícil compreender
o que realmente se passou e está em causa. Portugal infringiu ou não as regras?
Quando? Por quanto? Quem foram os responsáveis? E os outros países da União?
Esta trata todos da mesma maneira, como diz, ou com parcialidade, como parece? A
União ainda não conseguiu demonstrar que, na questão dos défices, está a ser
justa e equitativa. O PSD não provou que a sua gestão ficou abaixo do défice. O
governo não conseguiu demonstrar que a sua actuação não agrava os défices.
Chegámos ao ponto do inferno das emoções, próprio do patriotismo: o que fizemos
é bem, porque fomos nós. O que eles fizeram é mau, porque foram eles. Ao que
nós chegámos!
.
DN, 10 de Julho de 2016
Etiquetas: AMB
1 Comments:
Há verdades que doem, por serem tão verdadeiras. Deve ser por isso que não as queremos ver.
Mas, atenção: Não há dúvidas nenhumas de que a (des)União não trata todos da mesma maneira ("a França é a França" e a Alemanha é mais poderosa ainda); nem de que não é justa nem equitativa na questão dos défices. O que devia ser motivo acrescido para sermos mais previdentes. Depois pensamos que lhes damos tareia nos futebóis em que temos o melhor do mundo, etc...
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