Sem emenda - O orçamento e o futuro
Por António Barreto
Dentro de uma semana, começaremos
a saber se as políticas públicas se destinam a manter a coligação ou se já têm
em vista objectivos de médio e longo prazo. Os critérios para avaliar este
orçamento e as suas escolhas não deveriam ser a chantagem dos parceiros, nem o
grau de satisfação de cada um deles. Nem a maneira como o governo se consegue
manter. Deveriam ser, isso sim, as opções capazes de promover o crescimento
económico e desenvolver a sociedade.
Portugal vive, há quase duas
décadas, em clima de estagnação. Alguns dos factores de decadência são antigos,
inelutáveis e ultrapassados. Mas há outros que estão aí à espera de cuidado,
tratamento e reforma.
Entre os primeiros, contam-se a globalização,
as crises internacionais, as políticas europeias e o Euro, mas também são
responsáveis por alguns progressos recentes. De qualquer maneira, não parece
haver muito a fazer, no curto prazo e isoladamente, contra fenómenos como a
globalização! Se tiver aliados poderosos, Portugal apenas poderá influenciar a
seu favor alguns dos factores internacionais.
Além desses, há factores de
decadência contra os quais já não vale a pena lutar. A ditadura, pela sua
natureza e pela duração, atrasou Portugal. A guerra colonial também. A
revolução e a contra-revolução fizeram o país perder tempo. A nacionalização
das empresas e respectiva reprivatização adiaram a economia. Uma Constituição
despótica atrasou a sociedade, depois de ter salvado a democracia. Os partidos
políticos que temos adiaram o progresso e protelaram a politica.
A Educação gasta a mais e
progride pouco. Depois de uma enorme expansão quantitativa, a educação melhorou
apenas lentamente, mau grado uma enorme fatia do orçamento. E não se consegue
encontrar uma via estável de desenvolvimento. Com poderosos recursos
financeiros e liberta das polémicas ideológicas da educação, a saúde melhorou
muitíssimo. Hipotecado, o Estado social consolidou-se, mas está em perigo por
causa da demografia, do desemprego e da estagnação económica. A Ciência, num
mundo aberto e com grandes meios europeus, deu um salto, mas distanciou-se das
universidades, o que é erro difícil de corrigir. A Justiça tem sido a eterna
chaga da democracia portuguesa. Atrasada, lenta, injusta, burocrática,
influenciável, corporativa, orgulhosa e arrogante é seguramente uma das
ilustrações do atraso português. A banca portuguesa, depois de duas décadas de
inovação e da dinâmica económica, revelou finalmente ineficiência, corrupção,
falta de discernimento e actuações de duvidosa honorabilidade. Finalmente, a
política demagógica está no cerne da decadência portuguesa actual. A ela se
deve o endividamento e a dependência do país. Assim como a estranha
persistência da desigualdade.
Uma coisa parece indiscutível: a
economia está no centro exacto do que deveriam ser as preocupações e as
prioridades deste orçamento. A economia já conheceu períodos de progresso
acelerado, mas, desde 2000, estagnou. O crescimento é igual a zero. O
investimento parece ter descido a níveis inéditos na história contemporânea. Há
um ano que se esperam sinais de recuperação que não chegam. Quem pretende algo
mais do que a mera revisão ou a lubrificação do arranjo de governo, deve
procurar as prioridades ao crescimento e ao investimento. Será que estão lá? Este
orçamento é capaz de estimular o crescimento económico? De atrair o
investimento privado? De conduzir ao aumento do investimento total? E de
diminuir a despesa do Estado? Se sim, temos governo, temos orçamento e temos
futuro. Se não, a lei de meios servirá tão só para aguentar a habilidade.
DN, 9 de Outubro de
2016
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