18.2.19

Como se Consegue uma Boa Escola

Por Nuno Crato 
Há quase 20 anos que os resultados globais das escolas são fornecidos à imprensa e ao público, e são depois tratados, comparados e discutidos. Ainda bem! É bom que o país saiba o resultado do trabalho de escolas, professores, alunos e pais. É bom que os pais percebam as características das escolas onde estão os seus filhos e as possam comparar com as de outras, na mesma área e noutras localidades. E será bom que a discussão não se fique por aí e que seja aproveitada para corrigir o que há de menos bom e aprender o que se pode aprender com os casos de sucesso.
Infelizmente, esta divulgação ainda hoje é acompanhada de vozes críticas contra os "rankings". Não que essas vozes critiquem apenas os ditos. Também penso que os simples "rankings" constituem informação muito limitada, a precisar de dados integradores de contexto socioeconómico, que aliás começaram a ser divulgados em 2012/13. Não. Alguns pretendem impedir toda a divulgação dos resultados porque acham mal que se façam comparações. É lamentável.
As divulgações anuais de estatísticas têm sido um incentivo constante à melhoria das escolas, à melhoria dos nossos alunos e, logicamente, ao progresso do país. A maior atenção aos resultados educativos tem sido um dos fatores decisivos para o nosso progresso nas avaliações internacionais. Mais conhecimento não representa apenas maior liberdade e cidadania mais informada. Representa também incentivo à melhoria do ensino.
Se olharmos para a evolução dos resultados do estudo PISA, da OCDE, veremos três momentos em que eles melhoraram substancialmente. O primeiro ocorreu entre 2000 e 2003, precisamente após começarem a ser conhecidos e discutidos os resultados das escolas, o que aconteceu em 2001, e de ter surgido uma maior atenção aos resultados em geral, por força do balde de água fria que foi a divulgação dos primeiros estudos TIMSS (1995) e PISA (2000). O segundo momento de progresso ocorreu entre 2006 e 2009, precisamente na sequência da introdução de exames a Português e Matemática no 9.o ano de escolaridade, que incentivaram pais e escolas a darem maior atenção aos conhecimentos dos alunos nessas matérias estruturantes. O terceiro momento ocorreu entre 2012 e 2015, na sequência de um maior rigor curricular, de provas finais do 4.o e 6.o ano de escolaridade e de uma maior divulgação de resultados, nomeadamente resultados de contexto e de percursos de sucesso. A partir de 2015 tudo isto foi integrado no portal Infoescolas e traduzido em incentivos aos estabelecimentos de ensino.
Os últimos resultados internacionais, divulgados em 2015, mostram um panorama completamente distinto do de 2000. Foram os nossos melhores resultados internacionais de sempre. Pela primeira vez, ultrapassamos a média da OCDE em todas as áreas e, no TIMSS, passámos de uma situação em que apenas dois países estavam atrás de Portugal, para uma posição, em Matemática no 4.o ano, em que estamos à frente de 36 países, ultrapassando a mítica Finlândia.
Não. Não há informação a mais. Haverá, isso sim, informação a menos. Sem exames ou provas externas, os resultados das escolas são menos informativos e menos comparáveis. Percursos de sucesso sem essas avaliações dizem-nos menos sobre a preparação real dos alunos. Precisamos de mais informação, para melhorar as escolas, para melhor preparar os nossos jovens.

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2 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

Subscrevo,o artigo do Dr.Nuno Crato. No entanto,gostaria de acrescentar,que ainda há muito caminho a percorrer.Verifica-se que a melhor escola pública é frequentada,maioritariamente,por alunos provenientes,de um bom nível sócio-económico Mas,há as outras,as problemáticas...E,estas deveriam ser seguidas com mais atenção.Escolas,com graves problemas de indisciplina,e,não só,fruto das condições em que vivem essas crianças e jovens.É um enorme desafio para os professores dessas escolas conseguirem melhorar a sua classificação

19 de fevereiro de 2019 às 21:53  
Blogger José Batista said...

Não há informação a mais, claro. E quanta mais houver melhor.
Porém, é preciso ser crítico dos «rankings» que têm sido publicados, porque escondem muito da realidade que interessa. E têm sido um instrumento que aproveita às escolas privadas, em que se verificam coisas que não deviam ser admissíveis: por exemplo a inflação das classificações internas que beneficiam injustamente uns alunos em detrimento de outros (vejam-se dados publicados no suplemento do jornal «Público» de sábado passado). Isto é conhecido há anos, as «inspecções» registam-no, mas depois nada acontece. Quem pode, pode muito...
E algo de que ninguém fala, absolutamente ninguém, é das eventuais condições em que se realizam os exames em algumas escolas. Aqui há uns anos houve um escândalo, numa dessas escolas (privada) do topo dos «rankings», a «inspecção» até foi averiguar, inspeccionou, inspeccionou e... nada.
A outra face da moeda são as escolas públicas, desconsideradas, desprezadas, onde se pode lutar até à exaustão, e ver sem efeito o resultado de tanto esforço...
Há ainda outras ironias: nalgumas dessas escolas privadas do topo dos «rankings» leccionam professores que são (também) os do ensino público.
É uma pena que haja matérias que são tabu e de que ninguém quer falar...
Enfim, pobres dos filhos dos pobres.

20 de fevereiro de 2019 às 21:31  

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