Agora querem matar a BBC
Por Joaquim Letria
O jogo da produção da informação e a sua distribuição pelos meios de comunicação de massas é um instrumento primordial das diferentes forças que se desenvolvem na luta pelo poder. Ter informação, possuir informação sensível é uma ferramenta poderosíssima para se alcançar o poder político e constitui um instrumento indispensável para se conservar esse mesmo poder.
É então que a chamada liberdade de imprensa pode desempenhar importante papel no quadro da informação transversal a todos os meios de comunicação de massas, desempenhando a tarefa de preencher a falta de factos e de notícias que as multidões que formam a opinião pública sentem e exigem permanentemente como seu direito legítimo.
A tragédia que aflige o modo de ser colectivo reside na distinção que permite diferenciar a boa da má informação. A liberdade de imprensa é essencialmente a liberdade de informação e de expressão. E será que a liberdade de imprensa vive o seu crepúsculo ou poderá ainda desempenhar de outras formas, novos papéis, novas tarefas, novos sentidos? A verdade é que ninguém possui uma resposta fundamentada, coerente e legitimamente democrática para se encontrar a que venha a ser a eventual solução.
Se a informação é um bem, se a sociedade considera que todos devemos ter acesso a esse bem, então será útil e justo que tenhamos a garantia da qualidade desse bem imaterial. É, portanto, indispensável que exista um mínimo de confiança sobre a qualidade e a credibilidade desse mesmo bem.
Assim, deveria o poder político criar serviços públicos de informação e de educação qualificada. Serviços em que a informação seja um local de crítica para que a informação seja também formação. Assim, é difícil compreender que ainda não tenham sido criados portais na Net que sejam a placa giratória dum programa interactivo de informação elaborado por profissionais independentes. Também as rádios e as televisões podiam proteger e disseminar um conjunto de conteúdos que possam servir o interesse fundamental da informação em geral e da cultura em particular.
Porém, aquilo a que podemos assistir, a par de múltiplas crises de sobrevivência de órgãos de comunicação, é a um ataque cerrado, do governo de Boris Johnson, no Reino Unido à BBC, serviço público pago pelos utentes e que não é do estado, mas que serve o público do reino e o mundo com extrema qualidade, quase há 100 anos, que completa dentro de dias. E o ataque do governo de Boris não é por a BBC ter difundido argumentos anti-brexit ou por atacar os conservadores. Quanto a isso, o único defeito da BBC é ser independente. O argumento do governo é que o mundo que justificava a existência da BBC está a mudar e a extinguir-se e quer aliviar os cidadãos duma taxa que cobre a licença anual da BBC com o equivalente a cerca de 20 euros por mês. Muito pouco dinheiro, de facto, para a qualidade que a BBC oferece aos britânicos e ao Mundo. Trabalhei lá quase 5 anos, em Londres. E, se for vivo, vou dentro em breve a Broadcasting House para comemorar os 100 anos da Old Auntie.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
2 Comments:
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