AINDA SOBRE O ENSINO EM PORTUGAL
Por A. M. Galopim de Carvalho
Quando o Primeiro Ministro, em 2018, afirmou que o nosso maior défice era o da Educação, fiquei a saber que a análise que ele fazia deste importantíssimo sector da vida nacional coincidia com a minha.
Por isso afirmo uma vez mais que é preciso e urgente que o Ministério da Educação chame a si gente realmente capaz de proceder à necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino, a começar nos programas, passando pelo negócio dos livros e outros manuais adoptados e, a terminar, na conveniente formação e necessária dignificação dos professores e em tudo mais que lhes diga respeito, como seja, por exemplo, a libertação de todas as tarefas alheias à sua real missão de ensinar.
Em 2002 a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, no propósito de promover a reflexão sobre os acontecimentos actuais, fomentar o pensamento crítico, criativo e independente, contribuindo assim para a promoção da tolerância e da paz.
Todo o ideal que aqui se pretende promover está contemplado no teórico e ilusório propósito oficial da nossa escolaridade obrigatória, agora de 12 anos. Basta ler os textos de alguns dos responsáveis pelo nosso ensino para verificar que assim é. Mas a verdade é que continuamos a ser um povo em que ainda são muitos os desinteressados pelos valores da ciência e da cultura, alienados pelo “jogo da bola” e em que muitos militantes e a maioria dos simpatizantes e, até mesmo, militantes dos partidos políticos desconhecem os fundamentos das respectivas ideologias. Basta vê-los, à entrada dos congressos, sem saberem responder às perguntas dos jornalistas sobre esta ou aquela moção.
A Revolução de Abril, escancarou não só as portas, como os portões e as janelas, ao conhecimento dos mais variados temas das culturas científica, humanística e artística. Mas vivemos 46 anos, praticamente, de costas voltadas para estes valores, entretidos com futebol, lutas entre os aparelhos partidários, e três televisões, duas delas, privadas, essencialmente vocacionadas no lucro (o que não choca, como empresas que são e garantem trabalho a muita gente) e uma, pública, paga por todos nós que, no seu canal de maior audiência, “dá ao povo aquilo de que o povo gosta” e que, assim, não sai da vulgaridade em que cresceu, vive e vai despedir-se deste mundo, sem ter aproveitado o prazer de saber e com isso ter participado numa sociedade melhor.
Não obstante os belos propósitos, que eu diria falhos de convicção, de responsáveis pelo ensino como, por exemplo o que diz que a escolaridade obrigatória estabelece que um aluno, no final dos respectivos 12 anos, esteja:
“munido de múltiplas literacias que lhe permitam analisar e questionar criticamente a realidade, avaliar e selecionar a informação, formular hipóteses e tomar decisões fundamentadas no seu dia a dia”.
Grande e lamentável falhanço!
A verdade é que são muitos os adolescentes que pouco ou nada leram, que chegam à universidade falhos de todas as culturas, sem saberem escrever português.
Os teóricos que aconselham os governos pretendem (ilusoriamente e estou em crer que sem convicção) que, cumprida a escolaridade obrigatória, o jovem:
“seja livre, autónomo, responsável e consciente de si próprio e do mundo que o rodeia”.
Mas basta vê-los, irracionalizados, saltando e gritando, na Praça do Marquês de Pombal, aquando das victórias deste ou daquele clube de futebol e constatar a elevada percentagem de abstenções nos actos eleitorais, para verificar a falência deste nobre propósito.
Os programas oficiais estabelecem que, nas diferentes áreas de competências, os alunos aprendam a
“colaborar em diferentes contextos comunicativos, de forma adequada e segura, utilizando diferentes tipos de ferramentas (analógicas e digitais), com base nas regras de conduta próprias de cada ambiente”.
Um belo e elevado propósito que não teve e continua a não ter realidade visível na média dos nossos cidadãos e cidadãs. O que salta à vista nos dias que correm e nesta geração de adolescentes, que teve e tem o privilégio de fruir da condição de estudante, é o uso obsessivo dos telemóveis, onde quer que estejam e seja a que horas forem.
É, pois, preciso e urgente olhar para esta realidade do nosso ensino. É, pois, preciso e urgente que o Ministério da Educação chame a si gente realmente capaz de proceder à necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino, a começar nos programas, passando pelo negócio dos livros e outros manuais adoptados e, a terminar, na conveniente formação e necessária dignificação dos professores e em tudo mais que lhes diga respeito, como seja, por exemplo, a libertação de todas as tarefas alheias à sua real missão de ensinar.
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