Joe Biden e o PM japonês
Por C. B. Esperança
O primeiro-ministro japonês foi o líder estrangeiro a quem o PR dos EUA, Joe Biden, destinou a primeira receção em Washington.
É um acontecimento inédito da diplomacia americana onde o Canadá e o Reino Unido eram habituais na lista de cada novo presidente.
Em clima de tensão dos EUA com a Rússia e de guerra comercial com a China, assume significado especial a receção ao PM japonês. É a geoestratégia a deslocar-se para o Pacífico e Tóquio a substituir a Europa.
Num período de forte expansão da China para os mercados globais, o Japão tornou-se a potência escolhida pelos EUA, aproveitando a ancestral rivalidade chinesa com o Japão e a Índia.
Independentemente dos compromissos financeiros assumidos e do abordar de questões relacionadas com os direitos humanos, tema onde a diplomacia americana tem posições contraditórias, tratando-se de ditaduras amigas ou de países concorrentes, é relevante o compromisso japonês para trabalhar com os Estados Unidos em alternativas à rede 5G da empresa chinesa Huawei, empresa na vanguarda desta revolucionária tecnologia.
A pressão sobre a China vai continuar depois de os Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Canadá terem imposto sanções às autoridades chinesas por presumíveis abusos em Xinjiang, região autónoma chinesa. Não faltarão, aliás, bons pretextos com o fim do sonho democrático de Hong Kong e, menos notório, de Macau, onde a reforma eleitoral decidida em 11 de março, em Pequim, acabou com os sonhos democráticos da população de Hong Kong, habituada à liberdade de expressão.
O Japão há de certamente sentir-se encorajado a adotar uma postura dura em relação a Pequim, quando aumentam as atividades marítimas nos mares do leste e do sul da China e perto de Taiwan, a ilha maioritariamente interessada em defender a sua independência.
A China procura a hegemonia global, dispondo de colossais meios financeiros e de uma população domesticada pela ditadura, e os EUA não deixarão pacificamente a liderança militar, económica e política que adquiriram com a guerra de 1939/45 e a posterior implosão da URSS.
A importância que o Japão assume na estratégia dos EUA passa pela subalternização da Europa, nomeadamente da União Europeia, no xadrez político internacional.
É de temer o declínio acentuado da Europa onde a população e o PIB, equivalentes aos EUA, não lhe permitem relevância na geoestratégia das duas maiores potências.
E, apesar de tudo, incluindo a pandemia, a Europa continua o maior espaço de liberdade e de bem-estar do Planeta.
Ponte Europa / Sorumbático
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