A deriva autoritária da Europa
Por C. B. Esperança
Quem assistiu ao 25 de Abril de 1974, fim do regime fascista, arrastando consigo mais duas anacrónicas ditaduras, Espanha e Grécia, há de ter pensado que o futuro da Europa seria irreversivelmente democrático.
Há poucos anos, ainda se registava uma crescente vaga democrática que, um pouco por todo o mundo, substituía velhas ditaduras, mesmo em países que nunca tinham vivido em democracia.
Agora assiste-se ao aumento do número de países que ameaçam os direitos humanos, a liberdade de imprensa e a autonomia dos Tribunais, características liberais dos regimes democráticos.
A deriva autoritária que regressou progressivamente ao Grupo de Visegrado (Hungria, Polónia, Chéquia e Eslováquia), veio mostrar quão frágeis são as democracias e fortes os apelos nacionalistas, onde se misturam tradições religiosas e velhos ódios em países cujas fronteiras tiveram ao longo da História geometria varável.
A Eslovénia, depois da eleição de Janez Janša, admirador de Trump, tornou-se mais um país eurocético e antidemocrático, que não se revê nos valores civilizacionais europeus, e está mais longe dos valores fundadores da UE, a que ora preside, do que dos países do Grupo de Visegrado.
Acrescentem-se os partidos abertamente fascistas de países ainda democráticos, em vias de ascenderem ao poder, numa inquietante similitude com o que sucedeu na década de 30 do século passado e, tal como então, ajudados pela propaganda contra os políticos e a corrupção, sendo a democracia o único regime que se submete ao escrutínio e permite a denúncia e julgamento dos corruptos.
Durante décadas as democracias conseguiram sempre assegurar mais bem-estar do que as ditaduras o que as ajudou a sobreviver permitindo aos seus inimigos que as derrubem através de eleições.
Não é líquido que as democracias continuem a assegurar maior crescimento económico, as árvores não crescem até ao céu, do que as ditaduras.
Os êxitos da China são um motivo de preocupação para todos os que amam a liberdade e repudiam as conceções totalitárias que regressam.
A pandemia veio agravar o fosso entre ricos e pobres, entre países e dentro de cada um deles, e a explosão demográfica, o aquecimento global, a progressiva falta de alimentos e de água potável, de oxigénio e de ozono, e o exacerbamento da xenofobia, do racismo e dos conflitos religiosos, criam o ambiente propício para fragilizar as democracias.
Se os democratas esmorecerem na defesa das democracias liberais, acabarão trocadas por regimes autoritários que farão novos os velhos paradigmas.
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