11.9.21

No “Nova Costa d’ Oiro” de Agosto de 2021

Ó meu, gastas tu e pago eu?!

FOI JÁ demasiado tarde que eu vim a saber que o nosso Ministro do Ambiente tinha vindo a Lagos para a abertura oficial da época balnear — e tenho pena de não o ter sabido a tempo, pois estou certo de que, sendo nós conterrâneos e velhos colegas de profissão, poderíamos ter conversado um pouco, e com grande proveito, acerca do tema que dá o nome à sua pasta. Porém, e como “há mais marés que marinheiros”, acredito que isso possa vir a suceder numa próxima visita, na qual lhe proporei uma volta por estes lados — mas à moda d’ “As 1001 Noites”, seguindo o exemplo do Harun al-Rashid que percorria as ruas de Bagdade disfarçado de mercador para, incógnito, conhecer a REALIDADE da sua terra. 

No entanto, e como certamente será impossível falarmos de tudo, sugerir-lhe-ei que abordemos, ao menos, o PROBLEMA DA ÁGUA, começando por uma questão muito simples:

Quando, recentemente, nos informou que o respectivo preço, aqui no Algarve, terá de subir, qual era a ideia por detrás disso?

Estaria a pensar nos custos do transvase a partir do Pomarão? Se sim, não é para coisas como essa que há o tão falado PRR, com a sua “bazuca”? 

Ou estaria a pensar na dessalinização, um tema acerca do qual eu gostaria muito de falar, especialmente se ainda for válido tudo o que aprendi quando trabalhei para a Central de Porto Santo?

Ou, simplesmente, estava a pensar no adágio que diz que “O que pouco custa pouco se estima”, esperando que os algarvios reduzam o seu consumo doméstico, contribuindo, dessa forma, para a resolução do problema? Se é isso, está a incorrer numa ideia INGÉNUA e INJUSTA:

Antes de mais, é INGÉNUA, porque nenhum munícipe vai passar a gastar menos água na sua higiene pessoal, nas lavagens de roupa ou loiça (e muito menos na culinária) pelo facto de a sua conta subir um pouco; e ainda é menos provável que os grandes consumidores se retraiam — ou porque têm suficiente capacidade económica, ou porque podem repercutir esse aumento nos seus clientes.

Mesmo assim, ainda nos poderá dizer que o que está em causa é o princípio do utilizador-pagador, mas isso falha quando QUEM PAGA NÃO É QUEM GASTA. Sim, e para ver como isso também é verdade por estes lados, eu mostrar-lhe-ei um relvado de vários hectares — o do Parque da Cidade — que já vi a ser regado na hora de mais calor de um dia de Verão, com água a ser atirada para os caminhos... e daí para as sarjetas — um absurdo revoltante e recorrente, numa cidade que também não se inibe de exibir fontes e repuxos onde a água jorra “à fartazana”, sem ter em conta (embora possa ser sempre a mesma) o efeito psicológico que essa exibição de fartura propicia.

Aliás, e nesse mesmo simpático parque, eu poderei mostrar-lhe como têm razão os técnicos que desaconselham vivamente a própria existência de grandes relvados numa região, como a nossa, de clima mediterrânico — e eu até conheço quem ganhe a vida a projectar e a construir jardins “water-friendly” para clientes cuja conta da água é, em consequência disso, consideravelmente reduzida.

Mas ainda o pior é quando essa relva, já de si desnecessária, convive de perto com arvoredo, pois, impedindo que a água se infiltre, desincentiva o crescimento das raízes, pondo em causa a saúde e a estabilidade das árvores. E eu não precisarei, sequer, de o levar a sair desse mesmo parque para lhe mostrar como, em amplas áreas, aquilo mais parece um bizarro campo de golfe de 100 buracos, tantas são as crateras onde JÁ HOUVE ÁRVORES, mas que caíram ao primeiro golpe de vento um pouco mais forte. 

A terminar, e como “nota de esperança”, mostrar-lhe-ei um renque de belíssimos plátanos, existentes no mesmo parque, e que, ao que tudo indica, foram plantados e tratados por quem sabe, devendo a sua robustez ao facto de terem sido regados em profundidade, pelo processo que a última imagem mostra. Enfim, é “a excepção que confirma a regra” — mas, felizmente, a vida também é feita delas.

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Revista “Nova Costa d’ Oiro” de Agosto de 2021

 

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