Um país tribalizado – A Esquerda suicidou-se no chumbo do OE-2022
Por C. B. Esperança
O chumbo do OE derrubou o Governo e destruiu a confiança recíproca dos partidos de esquerda, e a do eleitorado na sua solidariedade. A direita ganhou aí a sua oportunidade de regressar ao poder, muito mais cedo do que podia esperar.
São irrelevantes as acusações de cada partido, na luta pelos votos das próximas eleições legislativas, cada um com as suas acusações, e com a irreparável perda de uma solução benéfica para o país, especialmente para os mais desfavorecidos.
Só por cinismo ou demagogia se pode acenar com a impossível repetição da experiência anterior, na próxima legislatura. Pode servir de truque eleitoral, aliás, risível, não serve para modificar a realidade nem para convencer o eleitorado.
Não foi um só partido que perdeu a confiança eleitoral, foi o conjunto das esquerdas que alienou o capital de simpatia e o entusiasmo que gerou. De positivo, além da excelente gestão que permitiu grandes avanços sociais num período particularmente difícil, ficará para o futuro a ampliação do que a direita amputava ao arco do poder.
O nível do Estado social nunca é demais, mas a economia pode não ser suficiente para o manter, e as esquerdas não podem varrer para debaixo do tapete a sua sustentabilidade.
O suicídio da Esquerda vai ser lentamente digerido. É improvável que as direitas saiam maioritárias das próximas eleições legislativas, mas sairão das seguintes, com o partido fascista a espreitar o poder e a destruição da arquitetura legislativa de um Estado de direito democrático.
A vantagem de que as esquerdas gozam, para não saírem já minoritárias, é o estado de decomposição em que se encontra o PSD onde os ódios internos superam a vontade de derrotar as esquerdas.
Rui Rio, o mais respeitável líder que o PSD gerou depois da tomada do poder pela dupla Cavaco /Passos Coelho, apadrinhada por vultos risíveis, Marco António, Filipe Meneses e Santana Lopes, viu-se derrotado no Conselho Nacional de Jurisdição, fragilizado na Comissão Nacional e fica vigiado por Pinto Luz, Montenegro e Carlos Moedas, homens de mão de Passos Coelho e ungidos, sobretudo o último, pelo PR cujas paixões pessoais não refreiam os apetites políticos pela condução do PSD.
Resta-nos a tribalização do PSD para retardar a tomada do poder pela direita e, se não for Rui Rio, será sempre alguém bem pior. Talvez daqui a dois anos.
À Esquerda, resta-lhe entrar em guerras intestinas, sem líderes que façam a autocrítica e sem força anímica e crédito para repetir tão cedo a estimulante convergência partidária que permitiu os Governos de António Costa.
Etiquetas: CBE
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home