RENASCER
Por A. M. Galopim de Carvalho
No léxico geológico o vocábulo “palingénese”, radicado nos étimos gregos “palim” que quer dizer de novo, e “génesis”, que significa acto de gerar, veicula a ideia de renascer. O termo foi usado por alguns autores para referir a fase do ciclo petrogenético que conduz à geração do granito por fusão, no interior profundo de uma montanha em formação, das rochas nela envolvidas, rochas que, por sua vez, resultaram da acumulação dos sedimentos derivados da erosão de terrenos em que tinham lugar granitos de uma geração anterior.
Esta ideia suscitou-me a reflexão que aqui vos deixo, com votos de um bom Domingo, mesmo com chuva, que tanta falta nos faz,
Renascer é uma constante nas histórias do Universo, da Terra e também dos homens.
Renasce, todos os anos, plena de luz, a Primavera, pondo fim ao frio e sempre triste Inverno
que, também ele, renascerá meses mais tarde.
Todos os dias, o Sol morre no longínquo Poente, para renascer na manhã seguinte, do outro lado
do mundo, numa alusão da morte e do renascer da natureza.
Fénix, a ave da mitologia egípcia, ateava o fogo ao seu ninho e deixava-se consumir pelas chamas,
renascendo depois, dos seus restos calcinados.
Na expressão figurativa do cristianismo, o renascer da Fénix é o símbolo da ressurreição de Cristo.
Há 14 anos, “Fénix 2” foi o nome escolhido para designar a cápsula que, numa operação prodígio
da engenharia mineira, fez renascer, um a um, os 33 mineiros da mina de São José, no Chile,
soterrados a cerca de 700 metros de profundidade.
No final da Idade Média, na transição para a Idade Moderna, teve início, nas cidades de Florença e
Siena, um período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, em particular
nas artes, na filosofia e nas ciências, com evidentes reflexos na sociedade, na economia, na política
e na religião. Foi a ruptura com as estruturas antigas em transição gradual do feudalismo para o
ideal humanista e naturalista. Deu-se-lhe o nome de Renascimento, dado que fez renascer as
referências culturais da Antiguidade Clássica
Renascem as cidades depois de destruídas por catástrofes naturais ou pelas guerras. Renascem,
para a vida, as mulheres e os homens que se libertam dos agentes opressores, sejam eles outros
homens ou mulheres ou as tristemente célebres substâncias psicoactivas.
Renascem os cravos vermelhos, todos os anos, em Abril e, logo a seguir, nos campos, renascem
as espigas de trigo, as papoilas e, à noite, o tracejar dos pontos de luz dos pirilampos, ao mesmo tempo que, nas avenidas, praças e jardins, o chão se cobre de um tapete de pétalas lilases de jacarandás.
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1 Comments:
Que beleza de escrita!
O que eu gosto de ler as suas Crónicas, Caro Sr. Galopim de Carvalho!
Sem floreados nem palavras 'difíceis', daquelas que temos de ler com o dicionário ao lado, percebemos tudo o que nos quer transmitir. Desde as pessoas mais eruditas, às pessoas mais simples, nas quais me incluo.
Grata, por isso!
Cordiais cumprimentos.
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