13.10.05

A nossa Selecção e o electricista trapalhão

TODA a gente está de acordo que a selecção nacional jogou mal contra o Liechtenstein.
Isso não me preocupa muito, mas vale a pena matutar na resposta que Scolari deu aos seus críticos, pois ela está em perfeita sintonia com a forma portuguesa de estar na vida e no mundo:

«O que é mais importante? Ganhar ou jogar bem?» - perguntou ele, brandindo um argumento que achou arrasador.

Aliás, essa é, em geral, a posição do adepto-típico, que se está nas tintas para o espectáculo e a qualidade do jogo - como se ganhar e jogar bem tivessem de ser coisas incompatíveis para jogadores de alto-nível!

Mas esses que defendem que «o resultado é que interessa» fazem-me lembrar um electricista trapalhão com quem eu em tempos trabalhei.
Quando eu me zangava por ele fazer tudo colado-com-cuspo, retorquia:

«Ó chefe, mas você quer isto bonito, ou a funcionar?» .


Aquela cabecinha nunca percebeu que era pago para as duas coisas, até porque, quando não fazia o trabalho bem feito (e não é por acaso que aquilo a que ele chamava bonito tem, na gíria, o nome de regras-da-arte), era certo e sabido que depois, cedo ou tarde, a instalação acabava por avariar.

Mas o «safar» e o «desenrascar» estão tão entranhados na nossa maneira de ser que não há volta a dar...

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como se sabe, essa noção de que «os fins é que interessam», está a ter consequências muito interessantes na política portuguesa...

13 de outubro de 2005 às 23:13  
Blogger Montenegro said...

Limitando-me à questão do futebol, como ex-praticante e fã incondicional, é claro que é preferivel ganhar e de preferencia jogar bem. Mas também é certo que isso nem sempre é possivel. E se nem sempre é possivel juntar o "ganhar" e o "jogar bem", é claro que prefiro ficar com o "ganhar". Os homens não são máquinas, por mais bem pagos que sejam, e têm dias em que as coisas não lhes saiem tão bem como sabem fazer. É por isso que normalmente digo "Ok, jogaram mal." mas não faço disso um cavalo de batalha.

Mas que há muita gente chateada por um brasileiro ter tanto sucesso à frente da selecção portuguesa, ai isso há.

14 de outubro de 2005 às 12:48  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Montenegro,

Obrigado pelo seu comentário, mas nesta recorrente discussão estão em causa duas formas muito diferentes de ver o desporto:

Como "adepto" e como "apreciador".

Ainda há dias estive a falar com um adepto do SCP e outro do SLB.
Ambos gostavam de ver a Selecção e jogos dos clubes deles.

Espantosamente (ou talvez não...), não lhes interessava absolutamente nada um bom jogo em que só aparecessem Barcelona, Real Madrid, Manchestrer United...
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Há muitos anos, vi jogos ao vivo com o Pelé, o Gilmar, o Yashine, etc.
Mas, na altura, eu era um "adepto", e não o "apreciador" que agora sou.

Resultado: Garanto que NÃO VI ESSES JOGADORES! Só vi os do meu clube!

Ou seja: paguei para ver 22 e só vi, na realidade, 11!

Mas, como é evidente, este é um assunto em que não pode haver acordo.

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Já agora: se puder, veja o filme sobre "dribles" que está em:

http://media.putfile.com/fussball

(Tem som)

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Um abraço
CMR

14 de outubro de 2005 às 13:13  

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