30.10.05

A profissão

VAI POR AÍ uma grande discussão sobre um assunto que, à primeira vista, «não interessaria nem ao Menino Jesus»:

Trata-se de decidir (imagine-se!) se Cavaco Silva é - ou não - um político profissional.

O visado diz que não - sem parecer interessado em voltar a falar no assunto; mas Mário Soares e o PS garantem que sim - e acham que o caso é do maior interesse para o país.

Depois de consultar um dicionário (que me diz que «profissional é uma pessoa que é regularmente remunerada pelo trabalho que executa»), resolvi tentar colocar-me na pele do visado para arrumar ideias:

Eu acabei o meu curso no IST em 1970 e, a partir daí, passei a responder «engenheiro» quando me perguntavam qual era a minha profissão.
E se, por hipótese, eu tivesse sido deputado durante algum tempo, mesmo nessa altura continuaria a responder o mesmo; e também se, após uma dúzia de anos, regressasse à empresa onde havia trabalhado trazendo no bolso uma reforma de deputado, não seria por causa desta que eu passaria a ser um "político profissional". «Obviamente» - acrescentarei, se não se importam...

Da mesma forma, imagino que a profissão de Cavaco seja «economista» (ou «professor de Economia», ou coisa semelhante), profissão essa que não deixou de ter pelo facto de, durante alguns anos, ter sido Primeiro-Ministro.

Mas, no essencial, o caso volta a mostrar a obsessão de Mário Soares e do PS em atacar Cavaco tomando-o como ponto de referência, caminho esse que Alegre também começou por percorrer mas que parece ter abandonado recentemente.

Como diz um amigo meu: «Se fez bem ou mal, não sei - veja-se pelos resultados»...

7 Comments:

Blogger Nuno Furtado said...

se por um lado concordo consigo quando diz que MS e o PS estão de longe a exagerar na sua persiguição de Cavaco por ter dito aquilo, também me sinto obrigado a referir que quando o disse, Cavaco Silva, quis refrescar a sua imagem perante a opinião pública. Não o disse como um facto em que acredite, mas sim com segundas intenções.

30 de outubro de 2005 às 23:49  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Masterperas,

Claro! E não sou eu quem defenda o Cavaco - até embirro com ele.

O que digo, é que "nessas e noutras" o homem está a revelar-se um mestre, e os outros todos estão a "embarcar" nas armadilhas dele.

Começando por o transformar na personagem principal (que é o pior que se pode fazer).

31 de outubro de 2005 às 08:19  
Anonymous Anónimo said...

«DN» de hoje:


(...)O ataque a Cavaco Silva pela reforma que recebe por ter sido primeiro-ministro foi um daqueles momentos "de instinto", não preparados previamente, e serviu a Mário Soares para abrir as hostilidades contra o opositor nesta campanha presidencial. "O ataque não foi pessoal, foi um ataque político. Soares irrita-se com o discurso de denegrir os políticos", garantiu fonte da candidatura ao DN. Mas o tema não foi objecto de discussão prévia pelo staff presidencial" foi lançado "espontaneamente", com Soares a ser impulsionado pelo "ambiente na sala".

Mas não se julgue que a marcação cerrada do candidato e ex-Presidente da República ao antigo primeiro-ministro vai ficar por aqui. Nem de perto, nem de longe. A ideia é mesmo a contrária "Obrigar Cavaco Silva a ir para o terreno", evitando que se mantenha a estratégia de resguardo que tem conseguido manter até esta altura.
(...)»
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Tontices, amigo Marocas... Tontices que te podem sair caras!

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Gorjão

31 de outubro de 2005 às 08:27  
Blogger jjoyce said...

o sr. professor Rosas aqui à uns tempos disse uma coisa acertada: quando cavaco por fim der entrada com os seus generais aí vamos ver o que dizem as sondagens; O general por antonomásia o eanes já exasperou o pires de lima e quejandos; depois temos o general Dias loureiro atascado de 'boa imagem' à frente do BPN, um homem muito bem nascido...and so on...

31 de outubro de 2005 às 12:38  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Curiosidade:

Cavaco viu o resultado das suas sondagens começar a descer quando começou a falar...

De facto, é da sabedoria popular que «o calado é o melhor» - que o digam Jerónimo de Sousa (quando perdeu a voz), Soares e Santana Lopes quando desataram a falar pelos cotovelos...

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Já dizia um conhecido meu:

«Nas reuniões, eu procuro nunca abrir a boca, porque um burro calado pode passar por sábio...»

31 de outubro de 2005 às 12:48  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O texto do presente "post" foi reunido com um anterior sobre a Coca-Cola e deram origem ao seguinte (publicado hoje no «Diário Digital»)

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Uma forma superior (?) de luta

I - VAI POR AÍ uma grande discussão sobre um assunto que, à primeira vista, não interessaria nem à Senhora de Fátima:

SERÁ CAVACO SILVA UM POLÍTICO PROFISSIONAL?

O visado diz que não - e não se mostra interessado em falar mais nisso; Mário Soares garante que sim – e acha que o caso é de grande interesse para o país.

Apesar de me parecer que o assunto não-tem-ponta-por-onde-se-lhe-pegue (pelo menos como problema nacional), tentei colocar-me na pele do visado só para arrumar ideias:

Eu acabei o meu curso do Técnico em 1970 e, a partir daí, passei a responder «engenheiro» quando me perguntavam qual era a minha profissão. E se, por hipótese, eu tivesse sido deputado durante algum tempo, mesmo nessa altura continuaria a responder o mesmo; e também se, após alguns anos, regressasse à empresa onde havia trabalhado trazendo no bolso uma reforma de deputado, não seria por causa desta que eu passaria a ser um "político profissional". «Obviamente!» – acrescentarei, se não se importam.

Da mesma forma, imagino que a profissão de Cavaco Silva seja «economista» (ou «professor de Economia», ou coisa semelhante), profissão essa que não deixou de ter pelo facto de, durante alguns anos, ter sido Primeiro-Ministro.

Mas, no essencial, o caso só revela a espantosa obsessão de Mário Soares e do PS em atacar Cavaco Silva, tomando-o como ponto de referência - caminho esse que Manuel Alegre também começou por percorrer, mas que abandonou recentemente, com os resultados que se conhecem.

II – QUANDO, numa loja ou num restaurante, alguém se depara com uma cola de uma marca desconhecida, em geral pensa na Coca-Cola e faz comparações com ela. Esta, por sua vez, ao ser tomada como padrão, é "colocada num pedestal" mesmo que não tenha sido essa a intenção do consumidor.

Ora não é exactamente isso o que estão a fazer os que usam Cavaco Silva como tema recorrente nos seus discursos, textos e argumentos? Não se apercebem da tristíssima figura que fazem ao colocarem-se, por sua livre iniciativa, na posição de «olhar para ele de baixo para cima»?! É estranho mas, de facto, não; não se apercebem!

Face a essa ingenuidade (e da mesma forma que não passa pela cabeça da Coca-Cola dizer mal das outras colas), Cavaco também não se refere – sequer... – aos seus concorrentes. É por essas e por outras que se vê que o homem aprendeu mais em 10 anos do que os outros todos em 30 e, embora não gostando muito dele, reconheço que tenho de lhe «tirar o chapéu»!

NOTA 1: Resolvi, também, recorrer a um dicionário, que me diz que «profissional é uma pessoa que é regularmente remunerada pelo trabalho que executa».

Assim, imagino que um «político profissional» seja «alguém que tem a sua principal fonte de rendimentos na actividade política», e não «quem durante algum tempo exerceu essa actividade», mesmo que venha a receber uma reforma devido a esse facto.

«Políticos profissionais» seriam, pois, pessoas como Carlos Carvalhas, Alberto João Jardim, Jorge Coelho, Paulo Portas, etc. – o que, em si mesmo, «não é mau nem bom», mas o que parece corresponder verdadeiramente à definição da expressão em causa.

NOTA 2: A velha frase «Falem bem ou mal de mim, mas falem de mim!» (que já foi atribuída a muita gente) teve, mais recentemente, uma variante curiosa: «Quando disserem mal de mim, não se enganem a escrever o meu nome!».

31 de outubro de 2005 às 13:30  
Anonymous Anónimo said...

No ABRUPTO:

«É triste ver o desespero de causa que leva Mário Soares a levantar a questão da pensão de Cavaco. É a mais desapropriada das questões, em particular, vinda de Mário Soares que se pensava estar acima deste tipo de ataques rasteiros, que nele tem o precedente da campanha contra a situação conjugal de Sá Carneiro. É exactamente o mesmo tipo de tiros desesperados, alimentando a nossa inveja socializada de país pobre, que normalmente se voltam contra quem os dispara. O problema é que no caminho deixam lama por todo o lado, atingindo sempre mais quem mais próximo está dos defeitos típicos do nosso sistema político e do seu crónico desprestígio. E isso, queira-se ou não, seja injusto ou não, será sempre mais fácil de cair em cima de um político como Soares do que de um político como Cavaco».

31 de outubro de 2005 às 16:54  

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