25.11.05

Privilégios e conversa-fiada

HÁ DIAS, num almoço em que eu estive e que juntou várias pessoas de diferentes idades e profissões, a conversa recaiu no assunto das «regalias e privilégios»; todos achavam que, na sociedade portuguesa, a maior parte devia ser abolida.



Deixei-os falar e, por alturas da sobremesa, resolvi tirar o assunto a limpo, interpelando um-por-um.

Como já esperava, constatei que, de uma forma ou de outra, TODOS os presentes - mas TODOS! - beneficiavam de alguma forma de privilégio, ou até de vários:

Uns trabalhavam poucas horas, outros ganhavam muito, outros tinham um número de dias de férias exorbitante, outros reformavam-se muito cedo, outros podiam faltar muito, outros ainda tinham serviços de saúde especiais, etc, etc.

Evidentemente, todos consideravam justíssima a sua situação - pensando o oposto da dos restantes!

Mas o cerne do problema é outro:

A ideia de agitar os «privilégios injustificados» (nomeadamente dos funcionários do Estado - juízes, funcionários judiciais, militares, professores, forças de segurança, enfermeiros, etc.), atiçando "o povão" contra quem os tem, pode ser muito eficaz, mas omite um aspecto importante:

É que eles não caíram do céu - houve alguém que os deu.

Seria, pois, MUITO interessante que, ao mesmo tempo que essas regalias são questionadas, ficássemos a saber quem foram os responsáveis por elas existirem.

Que governos? Com o apoio de que partidos?


Palpita-me que as respostas a estas perguntas nos trariam saborosas surpresas...

(Este texto veio a ser publicado no «DN» em 26 Nov 05 e no «metro» dois dias depois)
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Imagem do gato: http://sem_radar.blig.ig.com.br/imagens/vida_boa.jpg

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Então e a fotografia do cão?

C.E.

25 de novembro de 2005 às 13:20  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Era um cão que eu tinha e passava a vida a dormir.
Morreu há 1 ano, com 17.

25 de novembro de 2005 às 13:22  
Blogger cãorafeiro said...

o exemplo que o meu prezado amigo dá neste post é paradigmático da mentalidade mesquinha e invejosa que o governo IRRESPONSAVELMENTE está a querer incentivar nos portugueses.
não estou com isso a dizer que os seus companheiros de almoço sejam mesquinhos ou invejosos, longe de mim. trata-se na realidade de emoçoes que se entranham de forma muito subtil na nossa mente, quando o ambiente social em nosso redor se torna hostil. começamos a ver no outro um potencial inimigo, alguém que ameaça o nosso bem-estar.

isto é muito perigoso e está a corroer a coesão social neste país.

é uma táctica mais própria dos políticos autoritários do que dos democratas, consiste em dividir o povo, criando artificialmente tensões de modo a desviar a atenção dos verdadeiros problemas do país.
o verdadeiro problema deste país é que o custo de vida é insuportável, a desindustrialização está em marcha, a agricultura quase não existe, a erosão do litoral é inegável, a degradação das cidades devido à especulação imobiliária empurra os cidadãos para subúrbios sem qualquer planeamento urbanístico, e o interior sobrevive apenas à custa de uma série de subsídios indirectos. entre outras coisas.

como modelo económico para o futuro, existe uma tentativa por parte dos grandes grupos económicos/financeiros para transformar portugal num país de acolhimento de reformados do norte da europa, ou seja, num gigantesco lar da terceira idade para ricos.

não é propriamente o meu ideal de futuro para uma nação com a nossa Hist´ria, a nossa cultura e um povo que com todos os defeitos que possa ter, não deixa de ser um povo generoso e trabalhador.

25 de novembro de 2005 às 15:48  
Anonymous Anónimo said...

cãorafeiro escreveu: "o verdadeiro problema deste país é que o custo de vida é insuportável, a desindustrialização está em marcha, a agricultura quase não existe".

Esse é o "paleio" do costume, ouve-se uma vez e depois repete-se por aí. Ainda ontem vieram a publico estudos que revelaram que Portugal foi dos países Europeus (2o ou 3o lugar) que mais cresceu na industria. Há industrias a fechar? Pois claro, empresas mal geridas e a criarem produtos inuteis... mas essas diga-se de passagem, e a bem do país, não fazem cá falta.

Mas também há industria de sucesso e a dar cartas! Se as pessoas deste país se preocupassem mais em criar soluções do que estar à espera que o governo lhes resolva os problemas, certamente estariamos bem melhor ...

25 de novembro de 2005 às 20:14  

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