20.2.06

O ministro e o soldador

UM DIA DESTES, um ministro italiano envergou (e exibiu na TV) uma T-shirt com uma caricatura de Maomé; pudemos ouvir as gargalhadas do público, e ficar a saber que a consequência imediata foi o assalto ao consulado italiano em Benghazi, na Líbia, do qual resultaram 11 mortos.

Decerto o cavalheiro dirá que apenas exerceu o seu direito à liberdade de expressão, embora naquela "versão king-size" que inclui «desafiar, blasfemar e humilhar» o Islão - para usar as palavras do jornal dinamarquês que lançou a moda.

- Se estão ofendidos, recorram aos tribunais, protestem pacificamente! - diz-se por estes lados, fazendo lembrar a história do Chico-Soldador que deixou cair um pingo-de-solda no olho do ajudante:

Quando este, furioso e aos pinotes, lhe chamou todos os nomes, o outro, muito ofendido, retorquiu:

- Também não é preciso reagires assim! Bastava-te dizer: "Ó Chico, se fazes favor vê se tens mais cuidado, porque estás a deixar cair pingos-de-solda no meu olho".

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(Publicado no jornal «metro» em 21 Fev 06)

4 Comments:

Blogger pedro oliveira said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

21 de fevereiro de 2006 às 00:23  
Blogger pedro oliveira said...

É de facto muito ténue a linha que separa a liberdade de expressão da ofensa.

Como muito bem referiu o Código Penal serve para podermos discernir entre uma e outra situação.

Convenhamos que há uma certa diferença entre fazer uns rabiscos no papel e incendiar bandeiras, embaixadas ou matar pessoas.

Perguntar-me-á:
Se fosses o director do jornal dinamarquês tinhas iniciado esta polémica?
Responder-lhe-ia, convictamente:
Não!

Um abraço.

21 de fevereiro de 2006 às 18:16  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro Pedro Oliveira,

Um longo e interessante artigo acerca dessa "fronteira difusa", está em:

http://english.aljazeera.net/NR/exeres/7258E2EC-9308-46EB-BA3B-C7F7DE5D2734.htm

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Eu convivi com muitos muçulmanos (iranianos, turcos, egípcios, marroquinos, argelinos, tunisinos e até congoleses), pelo que tenho uma noção MUITO exacta do que vai na cabeça deles em termos de religião.

Nós, por cá, não fazemos a menor ideia...

21 de fevereiro de 2006 às 18:37  
Blogger pedro oliveira said...

Obrigado pela indicação do artigo, achei-o, bastante, interessante.
"the line between free speech and hate speech may have been crossed in some of these cartoons" é bem verdade, tal como é verdade que a vivência da religião pelos muçulmanos (dum modo geral) nada tem a ver com a forma como os cristãos vivem o cristianismo.
A grande diferença é que na maioria dos países muçulmanos não existe uma separação clara entre a religião e estado.

21 de fevereiro de 2006 às 19:43  

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