30.5.06

Deixem regressar as Mulheres!

Vou assistindo, incomodado, a esta súbita moda de afastamento da mulher do discurso público português. Ainda anteontem, num depoimento circunstancial para as televisões, um ministro disse, com ar grave, que os homens fariam não sei quê e as senhoras não sei que outra coisa. Os homens e as senhoras.

Cada vez mais as casas de banho públicas estão sinalizadas como de homens e de senhoras. E cada vez mais os homens que falam nas rádios e nas televisões se referem às suas legítimas mulheres chamando-lhes “minha esposa”.

Estranhíssima onda esta, que manda trocar a saudável e amabilíssima palavra “mulher” por “senhora” ou “esposa”, como se chamar mulher a uma mulher fosse uma injúria… Mas de que cabeça pimba terá surgido este confrangedor maneirismo? Quem veio, de súbito, arredar as mulheres e substituí-las pelo pífio “senhoras” e o entediante “esposas”?

Por mim, tenho o maior orgulho na grande Mulher que foi minha Mãe, na espantosa criatura que é a minha Mulher. E não contem comigo para perguntar onde fica a casa de banho dos “cavalheiros”. Homem chama-se homem, Mulher chama-se mulher – deixem-se de parvoíces bacocas. Mesmo os senhores ministros na televisão.

2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O ESTRANHO CASO DO "H" DESAPARECIDO (*)

Relatório secreto do que aconteceu ao sócio Malaquias no dia em que estava de serviço às Urgências e Emergências do «Clube dos Inventores».

*

Estava eu muito sossegado, sem nada que fazer - para além de observar as moscas -, quando telefonou o Doutor Andorinhas, da empresa Mykro-Makro, por causa de um problema estranho:

Tinha desaparecido a letra "H" da porta da casa de banho dos homens!

Bem… talvez ela se tivesse simplesmente perdido. Mas, de qualquer forma, era preciso resolver o caso e, como ele achou que isso era uma tarefa digna do «Clube dos Inventores», não perdeu tempo a telefonar-nos.

Dado que nessa altura era eu que estava de serviço, lá fui, para ver o que se podia fazer.

*

O Dr. Andorinhas começou por me receber muito bem, mas também não me escondeu a sua preocupação:

— Foi sabotagem, Malaquias! Estou certo de que foi sabotagem! - queixou-se-me ele, desalentado - E logo na véspera do Grande Congresso é que alguém foi roubar a letra que identificava a casa de banho dos homens! Sem dúvida que foi obra do Engenheiro Milhafre, o meu pior inimigo!

E concluiu:

— Malaquias, se não fizeres nada, vai ser o caos nas nossas casas de banho! A minha empresa vai cobrir-se de ridículo e eu estou perdido! Vai ser o fim da minha carreira!

Mas eu nada lhe podia prometer. Por isso, limitei-me a dizer-lhe uma frase que costuma dar para tudo:

— Vamos lá ver o que é que se pode arranjar…

Sem dizer mais nada, pegou-me gentilmente pelo braço e levou-me, através de infindáveis escadarias e corredores, ao armazém subterrâneo, na cave Nº 5, onde se guardavam as ferramentas e as sobras mais incríveis que possam imaginar.

Deu-me para a mão um pesado caixote de madeira (onde estava uma grande quantidade de letras avulso) e comentou apenas, desalentado:

— Nem um único, Malaquias! Já estive a ver. Nem um único "H"!

E, dizendo que confiava plenamente em mim, foi-se embora deixando-me sozinho e com o problema nas mãos…

*

Como é evidente – de contrário, ele não teria pedido a nossa ajuda… – ali não se encontrava nenhum "H". Havia, no entanto, muitas outras letras, e algumas até repetidas.

E foi assim que dei por mim de roda do alfabeto incompleto na esperança de encontrar uma solução engenhosa…

*

Já agora, não quero deixar de referir uma coisa extremamente divertida:

Já pensaram que quem inventou o alfabeto foi um analfabeto?!

*

Mas continuando:

Por mais que pensasse… que pensasse… o meu cérebro parecia que tinha entupido – nada saía dele!

Tive então de me socorrer do meu grau adicional de imaginação (que guardo para as grandes dificuldades) e resolvi confiar na inteligência dos utilizadores das casas de banho…

*

Pensei usar um "C", de "Cavalheiros". Mas não havia nenhum. Nenhum "C", entenda-se…

Depois, pensei usar um "M", com o significado de "Masculino" - até havia vários, mas podia confundir-se com "Mulheres".

Ainda pensei, (mas claro que não era a sério!) em "G", de "Gajos", mas também pensei, dentro do mesmo espírito de brincadeira, que o feminino da palavra, tendo a mesma inicial, iria dar grandes confusões…

— Eureka! - gritei eu, por fim - vou meter um "S", que é a abreviatura de "Senhores"!

Estão a ver o sarilho que arranjei?!»

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(*) 1º Capítulo de «O Clube dos Inventores». A Plátano acaba de editar uma pequena brochura com as primeiras 10 histórias, mas o livro completo está na Internet em www.janelanaweb.com/humormedina

30 de maio de 2006 às 19:19  
Blogger pedro oliveira said...

Carlos Pinto Coelho,

Concordo no essencial com o «post» não deixei, no entanto, de reparar que antecede a palavra Mulher (duas mulheres, muito importantes para si) por prenomes possessivos, por mim deixá-las-ia soltas, livres, independentes...

31 de maio de 2006 às 01:09  

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