24.5.06

A mais bela...

JÁ POR várias vezes se abordou aqui uma questão curiosa - nomeadamente a propósito do arrastão de Carcavelos:
Aquilo que julgamos saber do que sucedeu no passado é fruto do estudo de documentos (tanto quanto possível próximos) da época em causa.
Então, como será feita a História dos tempos actuais, se é certo que há versões tão díspares dos MESMÍSSIMOS acontecimentos que temos mesmo debaixo dos nossos olhos?
Leia-se, em «Comentário-1», dois testemunhos presenciais da construção da «mais bela bandeira do mundo» que decorreu no domingo passado.

5 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

1ª - Diz a LUSA:

O Estádio Nacional foi ontem palco da iniciativa «A mais bela bandeira do Mundo», que juntou no Jamor 18788 mulheres, um número que constará no livro de recordes do «Guiness».

Ao início da tarde, começou a preparação da entrada no relvado das «voluntárias», numa tarefa que se prolongou por quase toda a tarde.
Depois de ginastas portuguesas e escuteiras, equipadas a rigor – em amarelo, branco e azul –, serem as primeiras a entrar e ajudarem a formar uma esfera armilar simplificada e o símbolo das «quinas», seguiram-se algumas horas de espera até ao produto final (a verde e vermelho).
A animação, intercalada com os incentivos do «speaker» de serviço e a actuação das cantoras Kátia Guerreiro, Mafalda Arnauth e Sara Tavares, manteve o grupo de muheres concentradas na tarefa e, pouco depois das 18h00, estava formada a maior bandeira humana.
Uma iniciativa homologada pelo próprio «Guiness», que, no Jamor, teve o responsável Rob Molloy, reconhecendo a participação de mais de 18 mil mulheres, superando em muito o anterior recorde da maior bandeira humana, realizada em Fevereiro deste ano na Escócia.
“Vai ser difícil de bater”, disse o responsável do «Guiness», salientando o entusiasmo que as mais de 18 mil mulheres mostraram no Jamor.
As muitas horas de espera foram recompensadas e no final as 18788 mulheres cantaram, acompanhadas pelo público ainda presente no estádio, o hino nacional, sob o incentivo e voz da cantora Dulce Pontes.
De acordo com a organização e por razões de segurança, o relvado do estádio apenas permitiu juntar cerca de 18 mil mulheres e, por isso, foram ainda algumas as que apenas puderam assistir ao evento, não chegando a entrar no relvado, embora no Jamor tenham estado cerca de 28500 pessoas.
Em «campo», estiveram mulheres de quase todos os pontos do País, a nível do continente, com Lisboa e Vale do Tejo a serem os mais representados (25 por cento), seguidos da região centro (22 por cento) e do Minho (17 por cento).
Porto e Alentejo, com 11 por cento cada, fizeram-se também representar, bem com Trás-os-Montes (oito por cento) e Algarve (seis por cento).
A mais bela bandeira do Mundo
foi formada no Jamor

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2ª-Diz uma senhora que lá esteve:(*)

O verdadeiro relato (na 1ª pessoa) do que aconteceu na MAIS BELA BANDEIRA DO MUNDO (organização do BES e da SIC). Peço-vos que leiam até ao fim.

O que o público da TV viu:

- ambiente de festa
- uma bela bandeira

COMO COMEÇOU?

Inscrevemo-nos, comparecemos às 10h30m (como pedido), entrámos pelas 12h 30m (abertura do portão), sentámo-nos nas bancadas e aí permanecemos seguindo as indicações que nos foram dadas.

Até cerca das 16h entraram no estádio pessoas (inscritas e não inscritas) que se foram colocando nas entradas que davam acesso à formação da bandeira e enchendo o corredor em redor.

O animador informava que haveria lugar para todas, pedia às pessoas que se encontravam nos acessos para se sentarem nas bancadas porque só essas entrariam para a bandeira.

Toda esta informação foi sendo repetida e quem estava fora das bancadas não abandonava essa posição.

Apesar de haver polícia e seguranças, ninguém fez tentativas para desmobilizar quem se encontrava nas zonas referidas.

O QUE ACONTECEU?

Entraram e fizeram a bandeira as mulheres (inscritas ou não), que não foram para as bancadas e que mais tarde chegaram.
Ficaram de fora centenas de mulheres que CIVICAMENTE seguiram todas as indicações dadas.

COMO ACABOU?

Com brindes a serem atirados para o meio das participantes, como se fossem bolas e com estas a lutarem por conseguir o maior número possível desses brindes.

Com as que não entraram a gritar "mentirosos" e alguns choros.

Com os organizadores e locutor a desaparecerem de imediato, sem um pedido de desculpas ou explicação e COM A OMISSÃO PÚBLICA da falta de organização.

Esta foi a única forma que encontrei de divulgar o que realmente aconteceu.

A minha tristeza é que MAIS UMA VEZ A FALTA DE CIVISMO VENCEU EM PORTUGAL e duas grandes empresas SIC E BES contribuíram para isso.

Peço-vos que reenviem esta mensagem ao maior número de pessoas possível.

Helena Rodrigues
(professora também de Formação Cívica da E.B. 2.3 Vasco Santana - Ramada)
Como explicar aos nossos alunos?

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(*) A imprensa traz vários relatos, escritos por senhoras diferentes, que, no essencial, dizem o mesmo.

24 de maio de 2006 às 20:56  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Quando se diz que «a interpretação é livre mas os factos são sagrados» está a enunciar-se uma meia-verdade.
Na realidade, o observador, por mais objectivo e imparcial que seja, só consegue aceder a uma ínfima parte da realidade - aquela que está disponível na "posição" em que se encontra.

Por outro lado, é sempre possível manipular uma notícia sem faltar à verdade: basta omitir aspectos essenciais que contradigam o relato que faz.

24 de maio de 2006 às 21:50  
Anonymous Anónimo said...

Como explicar, a milhares de adolescentes que se delocaram de todo o país, levantando-se de madrugada e fazendo centenas de kms, que o convite de que eram portadoras não servia para nada, porque a (des)organização deixou que milhares de outras que não tinham convite, lhes passassem á frente?
Esta foi a mais feia bandeira do mundo.
Eram bom, que estes eventos fossem organizados por gente com um pouquinho de vergonha.

25 de maio de 2006 às 10:10  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O «Público/Local-Lisboa» de hoje traz uma longa carta (semelhante a tantas outras) de uma senhora enganada.

25 de maio de 2006 às 10:31  
Anonymous Anónimo said...

Bastidores da mais bela bandeira do mundo [da sic e do bes)

A mais bela vergonha do mundo

A ideia era boa, era! O projecto era grandioso, a mulher portuguesa sentiu-se lisonjeada e acorreu em massa ao Estádio Nacional para formar a bandeira das mulheres. Nos dias que precederam a festa, as facilidades multiplicaram-se: haveria transporte e alimentação gratuitos para todas e ainda os pequenos brindes que todas gostaríamos de trazer para os filhos que ficaram em casa com o pai. Fomos de todo o país, do Minho ao Algarve e até das ilhas! Até nos pediram para levar o lenço de minhota! O pior foi que os senhores da (des)organização não sabiam que em Portugal havia tantas mulheres e ficaram atarantados (como dizemos à boa e velha maneira minhota) quando elas invadiram o estádio aos milhares. O transporte, tivemos; e o resto? A alimentação nem a vimos, ou, se alguém a viu, não fomos todas; só as que chegaram primeiro, porque estavam mais perto. Debaixo das altas temperaturas que se fizeram sentir e do sol que nos escaldou as cabeças, não havia que comer e a água estava exposta dentro do recinto da festa sem nos ser distribuída. Quando a pedimos aos organizadores que ufanamente exibiam o seu crachá, como se fossem donos do mundo, ninguém a queria dar. Tivemos que gritar em coro "Queremos água! Queremos água!". Muitas entraram em pânico, muitas desmaiaram com o calor e a fome. Valeram os bombeiros de Linda-a-Pastora (bem hajam!), que a todas socorreram com carinho e atenção. Sabem então o que fizeram os "festeiros"? Começaram a atirar garrafas de água pelo ar, por cima das nossas cabeças. Quem apanhou, bebeu, quem não apanhou, passou sede. Vi pessoas que partiram as cabeças com garrafas que vieram pelo ar; vi pessoas que magoaram os dedos ao tentar apanhá-las; vi milhares atropelarem-se bancada abaixo, porque estiveram mais de quatro horas sem comer e essencialmente sem beber nada, expostas ao sol tórrido; vi o pânico e a raiva multiplicarem-se. Os bombeiros não tiveram mãos a medir! Entretanto, o senhor animador anunciava repetidamente ao microfone que todas iríamos participar na formação da bandeira; poderíamos estar sossegadas nas bancadas que todas iríamos ser chamadas; haveria lugar para todas... Todas! Por volta das 16h, quando as mulheres se aperceberam de que a bandeira já estava em formação, muitas se precipitaram para o acesso ao relvado, sem regra. Umas entraram, outras não. Muitas vieram embora (como eu) sem querer saber sequer da bandeira, revoltadas com o desprezo e a mentira a que foram votadas. Eu levantei-me às 4h da manhã de sábado, deixei os meus filhos com dois e sete anos com o pai em casa, fui de Caminha a Lisboa para ser enganada, gozada e maltratada. Como eu, também o foram todos os milhares de mulheres a quem prometeram que iriam participar na bandeira e não contaram. Como eu, também o foi a senhora a quem deu uma trombose no recinto que se repetiu na viagem de regresso, dentro do meu autocarro, ao voltar para casa devido a problemas de saúde antigos agravados pelas más condições a que foi sujeita durante o dia. Foi tudo tão bonito e emocionante na televisão! Nunca mais tratem assim a mulher portuguesa, porque nós não merecemos. Merecemos mais respeito e atenção porque muito de bom que o país tem é dado por nós. Continuamos a ser o maior pilar português. Agora, só me resta lavar e guardar o lenço de lavradeira que orgulhosamente exibi em Lisboa, a capital que tão bem nos soube acolher, e esquecer para sempre a mais bela vergonha do mundo

26 de maio de 2006 às 10:48  

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