RELÓGIOS E NUVENS (*)
ESTE fim de semana reúne-se um conjunto de condições excepcionais de que podem resultar as marés mais intensas dos últimos anos. E sabia-se há muito que tal iria acontecer. Tal como podemos hoje saber, se o quisermos, quais serão as marés potencialmente mais elevadas dos próximos 100 anos. Basta calcular o conjunto das posições relativas da Terra, do Sol e da Lua.
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Mas as marés reais não são apenas determinadas por factores astronómicos. As condições meteorológicas são igualmente determinantes. E essas são muito mais difíceis de prever. Se a pressão atmosférica for baixa, por exemplo, o nível das águas subirá mais. E não o sabemos ainda. O facto é curioso. Não conseguimos ter certezas sobre o tempo que fará daqui a uns dias e sabemos, com uma precisão inacreditável, onde o Sol, a Lua e a Terra estarão daqui a cem, mil ou dez mil anos.
Este contraste tem marcado todo o desenvolvimento da ciência: há fenómenos que se comportam como relógios e outros que são tão irregulares e imprevisíveis como o feitio das nuvens. A ciência começou por estudar os primeiros e teve aí imensos sucessos. Mas os segundos são igualmente importantes. Quais são os efeitos, por exemplo de uma dieta à base de ananás? E será que uma alimentação saudável diminui o risco de cancro de mama?
Quem for ler os estudos científicos recentes sobre estes problemas, que são muitos e muito sérios, verá como é difícil chegar a conclusões. Por isso os cientistas desconfiam tanto de conclusões apressadas que por aí pululam sobre assuntos tão variados como os malefícios dos alimentos transgénicos ou o efeito da Lua sobre a fertilidade. Afinal, ainda hoje não se consegue prever o feitio das nuvens.
(*) Adaptado do «Expresso» de 7 Out 06
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