Panfletos caídos do céu
VI AS IMAGENS, disponibilizadas pelos canais de televisão, relativas aos dois primeiros dias do congresso do PS. Li na imprensa um leque alargado de relatos e comentários. Tudo me persuadiu de que se tratou do exercício colectivo tranquilo e determinado que era expectável e nada corroborou o apregoado clima de suspeição ou desencanto. É certo que, nos congressos de um partido democrático (a não ser os que possam ter lugar na momentânea euforia de uma vitória eleitoral), surgirão sempre apontamentos de pluralidade. Só que estes não só concorrem para o reforço do paradigma programado como até eliminam a necessidade de oferecer aos observadores de má vontade o patético espectáculo de um patusco qualquer que sobe ao palanque para exibir devoções albanesas.
Por muito livre que uma sociedade seja, o partido político é a única máquina de assalto ao poder que dispõe de um alvará redentor para o efeito. Ele foi concebido para isso, existe para isso e, por muito que o possamos lamentar, as mais das vezes esgota-se nisso. Não vem daí grande mal ao mundo. Porque a máquina não elimina - pelo menos necessária e desejavelmente - os cidadãos que a constituem e movimentam. E, por isso, o partido que está no poder realizou o seu escopo e a sua vocação, mais lhe não indo a carácter senão apoiar o Governo que ele próprio segregou.
É, por isso, sempre um tanto bizarro ver o discurso crítico da oposição cair na tentação de transferir para os militantes do partido do poder - para a sua consciência, para o seu apego aos valores programáticos (que ela detesta e combate) e para vários outros adereços da personalidade - as responsabilidades da luta política que só a ela compete travar. Esquecendo que, ao contrário do mero eleitor, o militante de qualquer partido tende a preferir as insatisfações que sempre existem na vitória às pequenas alegrias que normalmente também vicejam na derrota. Pelo que esse discurso oposicionista faz sempre lembrar aqueles aviões que encharcam o território inimigo com panfletos subversivos: não levam um povo beligerante a derrubar o seu Governo e não dispensam, no terreno, a vitória militar.
«DN» de 12 Nov 06
1 Comments:
Marques Mendes quer que a sua oposição seja credível - e vai prestar homenagem ao soba da Madeira que, ainda por cima, disse recentemente (e com todas as letras) que ele não era bem-vindo?
Ed
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