24.5.07

PEDRAS SOLTAS

O Islão e a Democracia
Por Carlos Barroco Esperança
NAS SOCIEDADES EM QUE A RELIGIÃO É OBRIGATÓRIA o condicionamento da opinião pública começa na infância pela manipulação e fanatização das crianças que conduz ao martírio e ao crime.
O Islão de hoje não é diferente do catolicismo medieval; mas este, graças à descoberta da cultura helénica e do direito romano, encontrou forças para usar a razão e contestar a fé, para fazer a Reforma e retirar ao Papa o poder temporal.
O direito divino, como origem do poder, foi substituído pela legitimidade democrática e a secularização tornou as sociedades abertas, tolerantes e plurais. A fé foi remetida para a esfera privada e as convulsões surgem quando os crentes pretendem fazer proselitismo através do aparelho de Estado.
Hoje é o protestantismo evangélico que lidera o fundamentalismo cristão nos EUA, em clara violação da Constituição e da vontade dos seus fundadores. A Igreja Ortodoxa tem dificuldade em aceitar a separação do Estado e tem uma exegese de pendor francamente reaccionário.
Mas é no Islão que os constrangimentos sociais e a violência clerical empurram os crentes para a irracionalidade da fé e a aceitação acrítica do Corão. Como há muito desistiram de questionar o que o clero diz que o Profeta disse e quer, há um permanente conflito com a modernidade e uma violência incompatível com a civilização.
A laicidade que libertou o Ocidente da tutela clerical é impensável onde o clero tem o poder absoluto no campo económico, político, militar, assistencial e ideológico.
Tal como durante a inquisição era impossível contestar a autoridade do Papa e o seu poder, também nas teocracias islâmicas é impossível discutir a misoginia, o adultério, a poligamia, o repúdio, a guerra santa, a homofobia e o pluralismo.
As religiões são, por natureza, totalitárias e avessas à modernidade. Ao atribuírem aos livros sagrados a vontade literal de Deus, ditada a um eleito como versão definitiva, impedem a discussão e ameaçam a vida do réprobo enquanto a separação entre a Igreja e o Estado não se afirmar.
É esse passo que parece estar cada vez mais distante nas teocracias islâmicas e que propicia o confronto entre a fé e a modernidade.
Contrariamente ao que têm afirmado os bispos católicos, os árabes não temem a liberdade religiosa que, segundo sondagens, é o que mais apreciam no Ocidente. São os clérigos que se assustam com a possibilidade de verem os crentes a renunciar à fé.
A liberdade, a democracia e, sobretudo, a perda da hegemonia sobre a mulher, assusta-os. É por isso que não renunciam à sharia nem dispensam uma boa decapitação de um apóstata, uma alegre lapidação à mulher adúltera ou uma divertida amputação a um ladrão.
Está em curso a luta desesperada contra a modernidade por uma civilização falhada.
Setembro de 2006

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