Por Carlos Fiolhais
ESTE TÍTULO ESPANTOSO está hoje [13 Jul] na última página do "Diário de Notícias". Encabeça uma entrevista feita por Maria João Caetano à Professora Rita Bastos, presidente da Associação de Professores de Matemática, a propósito dos exames de Matemática do 9.º ano (cujos resultados foram, infelizmente, catastróficos). O título é, evidentemente, um grande tiro no pé! Conforme um amigo meu comentou, é como se alguém dissesse que o termómetro prejudica a gripe...Mas será que a professora de Matemática pensa mesmo isso e quer acabar com os poucos exames que temos? Lendo o artigo não se encontra a frase de cima, que está entre aspas. Fica a dúvida que tantas vezes nos fica ao ler os jornais se a frase é da entrevistada ou da entrevistadora. O que se lê de mais parecido com o título é "O facto de ser uma disciplina constantemente [sic] sujeita a exames e ao escrutínio social causa uma pressão enorme nos professores e dificulta o ensino". E lê-se, a seguir, a resposta "Claro" à pergunta "Está a dizer que ensinar Matemática é mais difícil porque há exames?"
Na entrevista encontram-se outras afirmações no mínimo curiosas como "muitos alunos desistiram dos exames ainda antes de os realizar (...) Isso acontece muito com aqueles que geralmente têm boas notas noutras disciplinas" (quererá a professora dizer: eles são mesmo bons, mas não estão sequer para se maçar?). Ou esta outra: "o que um aluno faz num exame nem sempre corresponde àquilo de que ele é capaz" (quererá dizer: eles sabem muito, mas nos exames não acertam em metade?).
Seja qual for o pensamento exacto da entrevistada (e a exactidão é uma virtude, em matemática ou fora dela!) fica a ideia da desvalorização dos exames. Ora, quem desvaloriza os exames esquece-se que, ao fazê-lo, está a desvalorizar o ensino, os professores e a escola. Ou um professor é apenas um animador de tempos livres? Alguém que apenas tem de entreter os alunos durante as horas em que eles estão na escola?
Os alunos não sabem nada? Não estão preparados para a vida? Pois muito bem, a solução mais fácil - e também a pior - consiste em acabar com a maneira de se saber que eles não sabem. Se ignorarmos o problema, passa a não haver problema nenhum. Ah, como seria fácil o ensino em Portugal sem quaisquer exames...
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5 Comments:
Pode ser que os exames dificultem o ensino por não termos um sistema adequado à existência de exames. A professora também não sugeriu que deixasse de se fazer exames. O ensino que seja mais difícil. Quando tudo é fácil é que ninguém aprende seja o que for.
Mas os alunos também olham para o futuro e só vêem dificuldades e problemas. Também é difícil estar motivado sem ter um rumo minimamente definido. E nestes momentos começa a ver-se que as notas estão a descer e decide-se: diminuam a dificuldade. O nosso caminho é sempre o de nivelar por baixo. Por isso só podemos esperar que tudo piore. E o futuro ainda pior vai parecer... e por aí fora.
Não é que eu perceba muito disto...
Quando o descalabro é geral, é preciso ser cego para não ver que a culpa é do sistema de ensino. Os exames nao deveriam ser o primeiro passo para o melhorar, mas antes uma medida entre muitas outras, inclusive a qualidade e motivaçao dos professores.
Os exames feitos nos moldes em que estão a ser feitos e apenas para as estatísticas são a alienação completa dos mais importantes fundamentos educativos...
Como sempre sucede com os textos que têm, em rodapé, a referência [PH], os comentários são reencaminhados para os respectivos autores.
O problema do ensino em Portugal, não está na existência de exames em si, mas no erro de perspectiva que consiste em considerar a aprovação ou o bom desempenho nos exames a finalidade última que se pretende atingir. Ou seja os exames são o centro das atenções no ensino português e não deviam ser. A razão de ser deles é simplesmente aferir se um aluno está em condições de passar à fase seguinte ou se deve consolidar melhor os seus conhecimentos primeiro. Mas não é assim que olhamos para os exames. Olhamos para eles como uma medida de inteligência e sucesso escolar e tornamos a obtenção duma boa classificação no objectivo último para alunos e professores. Resultado: o ensino torna-se aborrecido - demasiado virado para o treino de exercícios de modo a que o aluno possa mecânicamente resolver problemas semelhantes em exame - e coloca-se um stress desnecessário nos alunos - enervando-os, por um lado, o que tende a levar a maiores problemas disciplinares, e desmotivando-os para aprender por outro - e nos professores, prejudicando a forma como acabam por transmitir os conhecimentos aos alunos.
A solução na minha opinião passaria por reduzir a carga de testes dando mais valor a outras formas de avaliação e por outro lado alterar os métodos de ensino de forma a que alunos e professores interajam mais e o conhecimento seja passado duma forma mais natural e menos imposta.
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