4.9.07

E ENTÃO OS IRMÃOS GÉMEOS? NINGUÉM DESCONFIA DELES?

Por João Miguel Tavares
CÁ PARA MIM foram os gémeos. O apartamento não tinha sinais de arrombamento, os pais estavam fora a jantar, e sabe-se como os irmãos mais novos são ciumentos. É verdade que Sean e Amelie só têm dois anos, mas nos tempos que correm as crianças perdem a inocência muito cedo. Então em Inglaterra. Elas podem perfeitamente ter planeado tudo nas costas da baby-sitter, compensando a falta de vocabulário com aquelas ligações esquisitas que os gémeos estabelecem entre eles, e aproveitado a tenra idade para desviar suspeitas. Só a polícia é que ainda não percebeu.
Esta é a minha tese sobre Maddie. Eu compreendo que pareça, digamos, ligeiramente absurda. Mas assim como assim é só mais uma. E pelo menos isto posso garantir: ela está tão bem fundamentada como 90% daquilo que tem sido dito e escrito sobre o seu desaparecimento. Porque este é um daqueles casos que tem tudo para ficar na história e sobre o qual valeria a pena escrever várias teses académicas. Afinal, ele coloca a nu, com cristalina clareza, uma dupla e imperdoável fragilidade nacional: por um lado, a total incapacidade da polícia em adaptar-se a uma sociedade com jornais e televisões; por outro, a total incapacidade da comunicação social portuguesa em fazer um jornalismo de investigação que a impeça de mudar de rumo ao sabor das correntes de ar e desdizer à noite o que afirmou de manhã. Sobre o caso Maddie já se disse tudo e o seu contrário: que foram profissionais, que foi o tradutor, que foram os pais, que foi o amigo, que não foi ninguém, que foi rapto, que foi homicídio, que foi acidente, que há muitas pistas, que há poucas pistas, que a PJ já sabe tudo, que a PJ não sabe nada de nada, e por aí fora.
A coisa tem sido de tal forma descontrolada que o processo judicial agora colocado pelos pais de Maddie ao Tal & Qual quase sabe a injustiça: afinal, a única coisa que o semanário fez foi pôr em manchete ("PJ acredita que os pais mataram Maddie") aquilo que toda a gente andou a insinuar nas últimas semanas, embora sem a coragem de o dizer com clareza. Desde a publicação das mais desvairadas especulações à invenção de uma guerra luso-britânica entre jornais, onde se discutiu a credibilidade da informação como se ela fosse um jogo de futebol, todo este caso está a ser mau de mais para ser verdade. Infelizmente, a tragédia de Maddie potenciou o nosso desgraçado provincianismo. Por culpa da polícia, dos media e dos próprios pais, que abriram a caixa de Pandora, o que agora resta é apenas um caso infestado de boataria, onde já ninguém faz patavina de ideia em que lugar obscuro a verdade se escondeu.
«DN» de 4 de Setembro de 2007 -[PH]

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1 Comments:

Blogger R. da Cunha said...

Tenho-me abstido de abordar/comentar este assunto, mas a sua "hipótese" é de encarar. Eu tenho outra pista, que ignoro se estará a ser seguida: a baby-sitter não gostou de ser dispensada naquele dia (definitivamente?)e daí...

4 de setembro de 2007 às 23:23  

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