RECENTEMENTE, a propósito da crónica em que Alice Vieira se referia a Erico Veríssimo, o Sorumbático promoveu um 'passatempo com prémio' em que desafiava os leitores a escreverem algumas palavras acerca do escritor e da sua obra.
Hoje, deixa-se aqui um desafio semelhante, acerca de Eça de Queirós:
Se o leitor tivesse de recomendar um livro do autor de Os Maias a alguém que nunca tivesse lido nada dele, qual escolheria - e porquê?
O autor da melhor resposta que seja dada até às 20h da próxima quarta-feira, dia 24, receberá um exemplar de um clássico da literatura, à escolha entre vários que, na altura, serão indicados.
Actualização (27 Dez 08 / 10h50m): foi decidido atribuir o prémio a Manuel Pessanha. Obrigado a todos!
Etiquetas: CMR, Passatempos
10 Comments:
Talvez pelo Conde de Abranhos. Não será dos mais marcantes, mas talvez seja dos mais hilariantes dos livros de Eça. Arrancar gargalhadas de sítios onde antes só existia a negatividade irritada do desprezo é obra que merece ser lida e vivida
Também eu iria pelo Conde de Abranhos, pelo "desenho" dos personagens e, pela cáustica dos costumes e da política, será, talvez, a mais marcante na obra de Eça.
Já vi português mais escorreito que o do meu comentário. Dá para entender?
Aqui fica uma "dica":
E que tal fazer depender a resposta dos gostos da pessoa?
Se for 'snob', que tal «A Correspondência de Fradique Mendes»?
Se quiser uma comédia de costumes para ler numa noite, que tal «Alves e Cia»?
Se gostar de contos, que tal «Contos» ou «O Mandarim»?
Se gostar de aventuras, que tal a tradução de «As Minas de Salomão»?
Se gostou da Madame Bovary, que tal «O Primo Basílio»?
Se é dado a problemas teológicos, que tal «O Crime do Padre Amaro»?
Se prefere romances históricos, que tal «A Ilustre Casa de Ramires»?
E «Os Maias»? Ficarão para antes ou para depois de «A Relíquia» e « Cidade e as Serras»?
Enviado por Rui Silva (por e-mail):
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Se tivesse que oferecer um livro de Eça de Queirós e, o seu destinatário fosse alguém que seguisse a actualidade do nosso país, em particular a sua política e os seus actores, escolheria uma colectânea de “As Farpas”. Trata um tema genérico mas desafiante que a todos interessa.
Nela Eça de Queirós e, naturalmente também Ramalho Ortigão, descrevem de forma sublime e superior a realidade da época que é, também, afinal a do nosso tempo.
Não será O livro do Eça mas, seguramente para quem nunca o leu, uma excelente introdução ao escritor e à sua escrita e, para além disso, uma maneira de actualizar conhecimentos sobre as gentes e maneiras de ser do nosso país.
Nota / Comentário a Rui Silva
A nomeação de Eça de Queirós como cônsul em Havana levou-o a abandonar «As Farpas», que mantinha a meias com Ramalho Ortigão.
A parte escrita por ele foi publicada em 1890 com o título «Uma Campanha Alegre».
O conselho a dar depende muito de quem seria esse tal que nunca tinha lido Eça e que o vai receber… Se for um adolescente com veia patriótica a contas com as dificuldades do secundário aconselho A Ilustre Casa de Ramires, leitura fácil de final feliz. Para um colega mais velho (ou talvez não) e mais cínico, O Mandarim e se ele apreciar leituras mais complicadas mas nem por isso menos divertidas, A Relíquia. O Primo Basílio serviria para dar ideias a uma dona de casa aborrecida e farta do marido (menos o seu final melodramático que já não se usa). Para um auto didacta anti clerical teria de ser, evidentemente, O Crime do Padre Amaro. Reservo Os Contos para alguma alma romântica (se ainda for possível encontrar alguma…). Ponho de lado toda a obra póstuma menos A Cidade e a Serra que aconselharia a alguém desiludido da vida mas com alguma esperança sem motivo e um pouco de sentido de humor para se rir de si mesmo. Ficam Os Maias para quem goste realmente de ler e, ao ler, de ir reencontrando, da vida a inutilidade do projecto e o inesperado da tragédia, e do mundo as gentes como nunca deixaram ou deixarão de ser. Desde o Dâmaso cobarde e mesquinho ao avô Afonso íntegro e vertical. Há lá de tudo, do tudo que nós somos, a começar pelos que deitam para o lixo o que a vida lhes poderia dar, se tivessem a coragem de a viver. Como o próprio Eg(ç)a e o Carlos…
Eça é e será sempre Eça... mas assim na conjunctura actual, na quadra que se avizinha, no na neblina de um inverno perdido nas serranias da infelicidade, escolheria sempre "A cidade e as Serras". O espirito português, tão nosso , e tão adaptado ao "turismo nacional", a nossa culinária já ancestral, provavelmente oriunda, da "canja ,Senhor.".. a tranquilidade frugal que os outros invejam e nós estamos a desbaratinar... por modos " globalizantes".. a paisagem... as gentes... e o perfume do arroz... tudo. Eça sempre. Um portento!
Recomendar a um amigo um livro de um grande vulto da nossa literatura clássica como o foi e é ainda hoje Eça de Queirós, não é de todo uma tarefa fácil, e revela-se um grande desafio para alguém que é inevitavelmente uma grande apreciadora da sua obra.
Fazer juz ao nome do escritor através de um único livro é um pouco injusto, mas como sei que quem lê a obra queirosiana jamais esquece a sua escrita brilhante, recomendo a um amigo a leitura dos "Contos". Estes são o resultado da genialidade do seu autor e penso que é uma pena colocar de parte contos tão agradáveis como "Singularidades de uma rapariga loura", "Frei Genebro", "A aia"... em detrimento de obras queirosianas mais conhecidas e marcantes. Além disso, considero que este conjunto de contos têm a particularidade de agradar a miúdos e graúdos, independentemente dos seus gostos literários.
Vou optar por uma resposta realista: as pessoas hoje em dia NÃO gostam de ler! (pelo menos os comuns mortais que conheço, não os intelectuais). Enfadam-se ao fim de pouco tempo, deixam os livros a meio e acham clássicos uma chatice. Assim me descreveram quase todos os meus amigos "Os maias". Que começaram a ler, viram que nunca mais se parava de falar da casa, casa, casa e ao fim de 30 páginas pararam.
Como combater isto? Com a dose certa. Começar com coisas pequenas. Assim sem dúvida que para quem nunca leu Eça, e se não leu é porque provavelmente nem está muito predisposto a ler, nada melhor que começar com um livro que se possa ler aos pedaços! Dá mais entusiasmo e pode ser que sirva de aperitivo para os calhamaços seguintes. Assim, sem dúvida que iria para "os contos".
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