24.7.09

É tempo de rapar tachos

Por Manuel João Ramos


O DISCURSO POLÍTICO É UM CAMPO de metáforas constantes, nem todas de grande “elevação” ou “profundidade”. Uma das mais usadas em tempos recentes provêm da actividade financeira: fala-se de “descrédito” das propostas políticas e de “descredibilização” da classe política, para qualificar discursos em crise de sentido e posturas eticamente questionáveis.

Usam-se também metáforas biológicas, como a “morte” das ideologias ou o “insuflar vida” na política, para identificar a perda de objectivos utópicos colectivos que resultou do fim da guerra fria, e o actual estado de descrença nas ilusões de futuros risonhos.


Simultâneo ao “esgotamento” do sentido que atinge as propostas e programas partidários (uma metáfora a um tempo financeira e ecológica), desponta uma nova prática política – e um novo campo metafórico – que ganha especial incidência em períodos eleitorais: trata-se de “rapar o fundo do tacho”, “deitar mão” e “lançar a rede” às causas cívicas de modo a atrair votantes cada vez mais recalcitrantes. (...)

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