14.3.11

À Deolinda e à Patrícia

Por Ferreira Fernandes

QUANTO ao tamanho da manifestação: foi grande - todos os testemunhos apontam para aí, até os números da polícia (que por hábito são sovinas). Foi uma manifestação grande que se comportou (todos os testemunhos também o dizem) democraticamente. Para quem quer exprimir a sua opinião, ou tão-só indignação, é um duplo conseguimento: juntar muita gente e respeitar os outros. Mas não é isso, o tamanho e a forma, que dá valor a uma luta. A manifestação deixou-se previamente definir por um estado de alma à Deolinda - queixumes: não temos e queremos. Na verdade, deveria ter-se apresentado como uma manifestação à Patrícia Coelho.
Eu explico.
Foi um dos testemunhos ontem recolhidos pelo DN: "Patrícia Coelho, 35 anos, teve de criar o seu próprio emprego se quis trabalhar." Como se vê, até a jornalista se deixou levar pelo espírito Deolinda. "Teve de criar o seu próprio emprego se quis trabalhar"... Mas não é esse o dever de alguém que quer alguma coisa, fazer por isso?! Disse Patrícia: "Vi que as coisas estavam mal e não ia conseguir trabalhar na minha área, que é o turismo. Criei uma empresa de aluguer de automóveis." E seguiram-se as queixas dela, já com a autoridade que de quem se pode queixar: ela quer andar mas emperram-na.
São atitudes à Patrícia que mostram, por contraste, o abuso do Estado que é pródigo para os seus (como ontem o DN denunciou com as subvenções aos ex-deputados) e alheio ao povo.
«DN» de 14 Mar 11

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